EIS A MINHA VOCAÇÃO AMOR E ALEGRIA

EIS MINHA VOCAÇÃO: AMOR E ALEGRIA

 

É a mais sublime vocação do ser humano. Somos chamados pelo Amor, para viver o amor. Tudo é amor e toda vocação é um convite ao amor, para ser vivido e partilhado. Pode ser cantado em prosa, versos, pinturas e sinfonias, mas precisa ser vivido no dia a dia.  Para finalizar o Sínodo da Família, onde o Papa Francisco exalta o sacramento e coloca em evidência o amor no seu sentido maior, percebemos como é importante para o papa envolver-nos neste tema. Não há maior amor que ofertar a própria vida pelos irmãos.  Este amor se concretiza em tantos lugares, como na comunidade, na sociedade, no trabalho, no lazer, mas é na família, ele tem uma importância mais elevada.

Amoris Laetitia, que em português significa  A alegria do amor, pode-se entender como um tratado quase poético da família, das preocupações, da morte e da vida, das dúvidas que temos e enveredar por tantas raízes que a família em si possui. Papa Francisco mostra o cerne do problema e como vê-lo, como trabalhar e extrair o melhor de cada família, que reunida forma nossas comunidades religiosas.

O Papa Francisco ao introduzir este belíssimo estudo, nos faz recordar que o tempo é superior ao espaço, ou seja, ele quer, de certo modo, nos dizer que as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser discutidas e preferencialmente solucionadas através das orientações magisteriais. Pois devemos ver com o olhar de quem está no cerne do problema.

  

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Confecção dos tapetes de Corpus Christ – Paróquia Nossa Senhora da Saúde 

UM CONVITE PARA A ALEGRIA DO AMOR

Cada país ou qualquer região do mundo precisa buscar soluções próprias dentro da sua inculturação, pois precisa ficar atento às tradições e aos desafios da sua localização. Devido nossa cultura ser muito diferente de outras, nem sempre nossas soluções serão iguais ao de outros. A Igreja, como sabemos, tem sua doutrina e sua práxis, mas isto não pode impedir outras possibilidades de interpretar algumas vertentes de sua doutrina ou as consequências que isto pode advir.

Há um caminho do Espírito Santo que sempre conduz os padres sinodais, que significa que o Espírito conduz e proporciona muita luz para que este sínodo realmente tivesse acontecido e saído este magnífico trabalho idealizado por todos os que participaram deste evento. O Papa agradece a todos que contribuíram e ajudaram para vermos a grande extensão dos problemas das famílias em todos os lugares do mundo.

O Papa nos diz que “por isso, considerei oportuno redigir uma Exortação Apostólica pós-sinodal que recolha contribuições dos dois Sínodos recentes sobre a família, acrescentando outras considerações que possam orientar a reflexão, o diálogo ou a práxis pastoral, e simultaneamente ofereça coragem, estímulo e ajuda às famílias na sua doação e nas suas dificuldades”.

 

NAS LINHAS DA TRADIÇÃO CRISTÃO

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Imagens do filme Memórias do Coração, vida e obra de Santo Eugênio de Mazenod 

Somos vocacionados por Deus, vocacionados ao amor, como caminho para a alegria. O Papa inicia nos conduzindo ao Antigo Testamento e mostrando as famílias, as gerações, histórias de amor e de crises familiares, desde Adão e Eva. Lembrando que no início já encontramos a violência com que Caim mata Abel.

O Papa encontra no livro do Gênesis o tema para abordar sobre a família, primeiro canteiro da alegria do amor. “Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne” (Gn 2, 24), lembrando também em Mateus de uma pergunta que Jesus faz: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, fê-los homem e mulher?” (Mt 19, 4).

A família se inicia do amor entre um homem e uma mulher. Mostra claramente o Cântico dos Cânticos para dizer que uma mulher, numa confissão maravilhosa de amor e doação em reciprocidade, exclama: “o meu amado é para mim e eu para ele (…). Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim” (2, 16; 6, 3).

Mostra que o casamento cura a solidão, surgindo a família e a geração. Lembra que Adão é o homem de todos os tempos e une-se à sua mulher, Eva, para dar origem a uma família, que na realidade são todas as famílias de todas as regiões do mundo. 

Explica de forma clara e sem rodeios que a palavra unir-se tem para nós o sentido hebraico,  que quer dizer uma estreita sintonia, uma adesão física e de forma interior do homem de descrever a união com Deus, como podemos ler em Samuel: “A minha alma está unida a Ti” (Sl 63/62, 9). É a metáfora para dizer que da mesma maneira que o homem se une a Deus, também se une à uma mulher, transformando-se os dois em um.

Portanto devemos compreender que a união matrimonial não é apenas tratada no seu sentido sexual, mas principalmente na sua doação voluntária de amor.

O resultado desta união é tornar-se uma só carne, quer no sentido físico e também espiritual, na união dos corações e das vidas.  O Papa Francisco deixa claro que os filhos nascerão dos dois e continuarão sua jornada através dos filhos; as gerações sempre se formarão, unindo-as genética e espiritualmente.

 

A NOVA LEI DO AMOR: AMAR SEM MEDIDAS

Partindo do Novo Testamento ensina que podemos ver outra dimensão da família, quando nos diz que igreja que se reúne em casa (1Cor 16, 19; Rm 16, 5; Col 4, 15; Flm 2).

O espaço fundamental que uma família ocupa, uma casa, pode se transformar numa igreja doméstica, um local onde possamos ter nossa Eucaristia, o autor nos diz que temos a presença de Cristo conosco, pois é uma cena descrita no Apocalipse de João “Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo” (3, 20).

O Papa nos envolve numa magia ao colocar Cristo em nossa casa para cear conosco, querendo dizer que qualquer casa pode abrigar a presença de Deus, principalmente através da oração comum que nos traz a benção do Senhor.

Em outras palavras o que ele nos mostra é que independente de qualquer lugar, onde existir uma família ela terá a benção de Deus, a sua presença depende do homem que obedece aos ensinamentos de Deus, “assim vai ser abençoado o homem que obedece ao Senhor. O Senhor te abençoe do monte Sião!” ( 4-5).

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Imagens do filme “Pão Divino, a vida de São Tarcísio” 

O Papa nos diz também que a Bíblia é o local da catequese dos filhos e nos coloca diante de vários trechos que nos ensinam a transmitir o que aprendemos de nossos antepassados, a história que contaremos às gerações futuras, não esquecendo que tudo o que acontece é através do poder e das maravilhas que Deus faz em cada família.

Temos em Samuel que “o Senhor estabeleceu um preceito em Jacob, instituiu uma lei em Israel. E ordenou aos nossos pais que a ensinassem aos seus filhos, para que as gerações futuras a conhecessem e os filhos que haviam de nascer a contassem aos seus próprios filhos” (Sl 78/77, 3-6).

A Encíclica acentua para nós que a família é o lugar onde os pais são na realidade os primeiros professores de seus filhos para que aprendam o que é a fé. É um trabalho diário que faz revigorar os ânimos de nossos filhos respondendo e ensinando o que nossos pais, avós ensinaram. 

 

NÃO HÁ AMOR SEM ALEGRIA E NEM ALEGRIA SEM AMOR

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Imagens do filme “Frei Galvão, o Bandeirante de Cristo” 

Os pais ensinando com bondade e amor esta missão educativa, conforme é ensinada pelos homens iluminados que escreveram a Bíblia (Pr 3, 11-12;6, 20-22; 13, 1; 29, 17), fica ciente que estarão honrando os pais, como um dos mandamentos de Deus.

As famílias têm o dever de cumprir, com seriedade, o seu papel na sociedade, primeiramente dentro de casa sendo obedientes aos pais.

Escolhe para nos falar desta maneira utilizando a frase: “… o que honra o pai alcança o perdão dos pecados, e quem honra a sua mãe é semelhante ao que acumula tesouros” (Sir 3, 3-4).

O papa também nos ensina que os filhos não são propriedade da família e que um dia terão seu caminho, retoma o mesmo sentido de que as gerações serão desta maneira, pois todos deverão ocupar seu espaço nesta vida.

Não se esquece de citar Jesus que obedecia aos seus pais e afirmar que ele é o modelo da obediência. Cita Lucas duas vezes, a primeira quando conta que Jesus foi ao templo aos doze anos discutir com os sacerdotes e responde a Maria e a José que tem uma missão para realizar (Lc 2, 48-50). 

Na segunda vez, o papa nos ensina que mesmo dentro das relações familiares Jesus diz que: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21). O autor, o Papa, nos lembra de que a sociedade na época de Jesus não dava às crianças nenhum direito e por isso, Ele olha com muita atenção para elas, onde Matheus escreve que: “Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu” (Mt 18, 3-4).

 

AMA E FAZE O QUE QUERES

Esta expressão de Agostinho de Hipona nos coloca dentro do contexto do verdadeiro amor cristão. Não significa fazer o que quer, mas amar, pois o amor nos permite agir com liberdade. Amar é ser livre e ser livre é o caminho para amar e viver como irmãos. Para que possamos entender ainda mais, as famílias em geral têm problemas, mas que com amor podem conseguir superar todos os dramas que acontecem. O papa faz uma lista muito grande contando que o próprio Jesus nasceu de uma família modesta, teve que fugir para o Egito, uma terra estrangeira, conta que entrou na casa de Pedro e a sogra dele estava muito doente, envolve-se nos dramas que acontecem na casa de Jairo e na de Lázaro, ouve o choro da viúva de Naim pelo filho que estava morto, o pai do epilético numa zona rural e muitas outras passagens. Em suas parábolas como a do filho pródigo investe para educar o cristão a compreender a família, pois Jesus conhecia bem a ansiedade, o comportamento das pessoas, inclusive suas necessidades financeiras, pois mostra-nos isso o tempo todo. 

Procura mostrar que devemos sempre entender a Palavra de Deus, que não se trata, como ele diz, de teses abstratas, mas principalmente de apoio para as famílias que estão em crise ou vivendo algum problema muito sério.

Nos deixa a mensagem que quando Deus “enxugar todas as lágrimas dos seus olhos, e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor” (Ap 21, 4).

Não se esquece de falar do trabalho que se torna importante no seio da família e no desenvolvimento da sociedade. Não descuida de falar do sustento da família e da importância de cada um dos seus membros fazer as suas obrigações. Coloca o papel da mulher e lembra-se de citar o Livro dos Provérbios cujo trabalho aparece “descrito nas suas múltiplas funções diárias, merecendo o elogio do marido e dos filhos (31, 10-31).

Cristo colocou acima de tudo a lei do amor e do dom de si mesmo aos outros (Mt 22, 39; Jo 13, 34) adotando um princípio fundamental para todos, que “Ninguém tem maior amor do que quem dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13). O papa coloca, também, que os frutos do amor são a misericórdia e o perdão.

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Imagens do filme “Frei Galvão, o Bandeirante de Cristo” 

E cita sempre o exemplo, em quase todos os seus escritos, que nesta linha meio complexa aparece uma adúltera no pátio do templo de Jerusalém, tendo em volta seus acusadores e depois que Cristo faz com que todos vão embora calados, dizendo que “se ninguém tiver pecados que atire a primeira pedra”, Jesus não a condena, mas convida-a uma vida digna ( Jo 8, 1-11). O papa nos coloca o perdão e a misericórdia nesta cena da vida de Jesus, ensinando-nos a perdoar e ao mesmo tempo ter misericórdia com os que erram. Sabemos que a vida matrimonial nem sempre são rosas, que muitos espinhos aparecem, mas o papa destaca um outro item muito interessante, a ternura. Inclusive nos diz “que ainda outra virtude, um pouco ignorada nestes tempos de relações frenéticas e superficiais temos a ternura”.

O Papa Francisco nos dá o exemplo da mãe e de seu bebê, recém-nascido e  da relação carinhosa entre a mãe e o bebê, dormindo após ser amamentado no colo dela. Nos diz que o  Salmista canta: “Estou sossegado e tranquilo, como criança saciada ao colo da mãe” (Sl 131/130, 2).

 

AMOR E SACRIFÍCIO

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Imagens do filme “Coração Imaculado, a vida e a obra de Bárbara Maix 

É através desta ternura e com o coração cheio de fé e amor, graça e compromisso, nos diz o papa, que juntamente com a Trindade divina entendemos a Palavra de Deus, que confia no casal e nos filhos, formando uma comunhão que é exatamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo. 

Entendemos como sendo um reflexo da obra do Pai, a família reza unida diariamente, faz a leitura da Palavra de Deus e sua comunhão eucarística cresce neste ambiente de amor.

As reflexões pontificais nos alerta que a família tem de enfrentar algumas vezes o luto pelos falecidos. Muitas vezes este luto demora muito para terminar, para isso é sempre bom que um sacerdote possa acompanhar este percurso, para que a família se adapte a uma nova fase de sua vida. 

Quando acontece uma morte na nossa família ficamos nos interrogando qual o motivo de um ente querido ter ido ao encontro de Deus e nos deixar. O papa nos mostra estas incertezas de nossos corações através de um sacerdote ou pessoas que possam ajudar a família nestes momentos difíceis e portanto mais importantes para os casais cristãos. 

O papa diz que temos que enfrentar este caminho paciente de oração e libertação interior até voltarmos à nossa paz. E nos diz que os demais membros da família precisam lembrar que mesmo no sofrimento, todos precisam ainda cumprir sua missão.

A pessoa amada que partiu não precisa da nossa tristeza, diz o papa, e nem que arruinemos nossas vidas, mas devemos continuar a amar a pessoa real que agora se encontra no Além. Sua presença não é mais física,  nos diz que a morte é realmente algo poderoso “forte como a morte é o amor”(Ct 8,6). Jesus ressuscitado, quando Maria Madalena quis abraçá-Lo intensamente, pediu-lhe que não O tocasse (cf. Jo 20, 17). Cada um pode tirar suas conclusões, pois sabemos perfeitamente que nossos entes queridos que se foram não voltam mais, portanto devemos manter nosso amor e respeito, nossa oração e nossas preces, pois o Pai os levou para perto de si, não é mais possível tocá-los. 

 

 

Prof. João Henrique Hansen – Pe. Antônio Sagrado Bogaz

autores de Novos tempos, novos templos. Paulus:2015

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Momento de reflexão…   

SER FAMILIA

 

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Ser família é construir um castelo de ideais
Tecendo os próprios  dons em plena harmonia
Para  colorir de sonhos a própria moradia
Ser família é engrandecer a misericórdia
Perdoando as mágoas com ternura e  carinho
Para  cicatrizar as maldades dos espinhos
Ser família é cultivar o tempo presente
Arrancando do passado as tristezas e os muros
Para abrir-se no afeto as utopias do futuro
Ser família e respeitar as distinções temporais
Unificando os valores das diferentes gerações
Para gerar momentos de ternura nos corações
Ser família é destrancar os portais da utopia
Trazendo à luz novas luzes de meninice
Para renascer os anos de nossa eterna velhice.
Ser família é promover revoadas de luzes
Reforçando as lembranças dos laços de amizade
Para vencer a solidão  num universo de fraternidade

 

Pe. Bogaz – Prof. Hansen
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