SANTOS JUNINOS

LITURGIA DOS SANTOS JUNINOS

FOGUEIRAS DA FRATERNIDADE

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Quando vemos o mês de junho chegar, nossos pensamentos vão para os santos juninos, identificando imediatamente Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo. Além dos santos serem populares, acrescentamos as belíssimas festas que acontecem nestas datas. Chamamos de festas juninas porque acontecem, evidentemente, no mês de junho, tornando-o o mês mais festivo do calendário dos santos. As igrejas que têm estes santos como padroeiros, normalmente estão envolvidas em quermesses, tríduos, novenas, trezenas, procissões e uma infinidade de atividades. O povo tem verdadeira devoção por estes santos e, depois de Nossa Senhora, são os santos mais populares do povo católico, especialmente no Brasil.

Quais são as práticas litúrgicas que expressam esta devoção popular? São inúmeras, pois cada região, cada grupo social, descendentes de estrangeiros e imigrantes, entre tantos grupos, cultuam estes santos com suas devoções particulares. Cada pessoa ou cada comunidade tem uma maneira de se expressar em função da sua devoção. Deste modo, em formas celebrativas variadas, elas se colocam ao lado das celebrações do ano litúrgico.       

Estas devoções populares enriquecem e dinamizam as celebrações. Devemos, no entanto, entender que por outro lado, algumas delas interferem no culto e outras estão ligadas a superstições, que acabam se misturando com as verdadeiras devoções.

Há uma necessidade de entender o significado pessoal e ritual do culto, através da ótica da devoção popular. Nossos exemplos, para justificar o mês de junho, serão tratados somente dos santos do mês, pois a devoção aos santos é tão grande, que o artigo não comportaria tratar de outros simultaneamente como Santa Rita de Cássia, São Judas Tadeu, Santo Expedito, Santa Luzia, que são alguns santos muito celebrados no Brasil. Também não é fácil dizer quais são os santos mais populares, pois todos são muito queridos e venerados. Cada um deles é importante para os seus devotos e todos merecem a mesma reverência, pois todos têm grande valor espiritual. Pelo menos, fica mais fácil de entender a força e a dinâmica dos ritos populares que acabam sendo inseridos na liturgia da igreja.

Santo Antônio de Pádua (dia 13), São João Batista (dia 24) e São Pedro e São Paulo (dia 29), são os santos populares do mês de junho. Estes santos têm, no calendário romano oficial, importância diferente da sua valorização popular. A vocação destes santos são diferentes, mas unificadas pelo mesmo ideal: servir o Reino de Deus.

    SANTO ANTÔNIO:      VOCAÇÃO DE PREGADOR

A história de Santo Antônio é muito conhecida, exatamente pelos devotos deste santo, um dos mais populares da Igreja católica, que existe há 800 anos. Chamava-se Fernando, nasceu em Lisboa, Portugal, filho de uma família nobre. Fez parte dos cônegos que seguiam a regra monástica de Santo Agostinho, no mosteiro de São Vicente, em Lisboa, e depois no mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Dedicou-se profundamente ao estudo da Bíblia e dos Padres da Igreja, adquirindo um conhecimento profundo de teologia que o tornou um grande pregador. Na cidade de Coimbra, um fato mudou sua vida, vendo as relíquias de cinco missionários franciscanos que foram martirizados no Marrocos, pediu para deixar os cônegos agostinianos e pediu para ser um frade menor de Francisco (o Santo). Adotou o nome de Antônio e partiu para o Marrocos. Lá ficou doente e tendo que regressar foi parar na Itália. Depois começou sua vida de pregação onde nos famosos Sermões que Santo Antônio realizava, falava sobre a oração que é como uma relação de amor e alegria do homem para com o Senhor.


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Sua vocação era a pregação. Pregar o Evangelho e partilhar o pão. Uma vocação assumida com coragem e amor a Jesus Cristo e sua Igreja.

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         SANTO ANTÔNIO:         ALUNO DE JESUS CRISTO

Foi um grande pregador e muito popular, tendo como símbolo, sua língua conservada intacta no seu santuário em Pádua, Itália. A Santo Antônio foi atribuída uma série de milagres, como a multiplicação dos pães, os peixes que vêm ouvir sua pregação, o menino Jesus que lhe explicava sobre as escrituras, a recém-nascida que começa a falar, o jumento que se ajoelha diante da Eucaristia, sua presença em dois lugares ao mesmo tempo e outras lindas histórias que faz parte de sua vida e que acabou misturando-se a lendas, nascidas da imaginação popular.

A devoção a Santo Antônio está mais relacionada com a caridade, benção dos pães e promessas para se casar. Segundo, ainda a tradição, se colocarmos um pedaço de pão atribuído à benção de Santo Antônio no meio do arroz cru, nunca faltará alimento na casa desta família. A mais conhecida delas, certamente é da promessa de casamento, que muitos acreditam que podem deixar a imagem dentro do poço ou de cabeça para baixo dentro de um armário e somente retirar ou virar a imagem quando chegar o dia do casamento.

A VOCAÇÃO CAMPONESA DE SÃO JOÃO

Apesar de São João ser muito popular, muitos católicos ainda confundem São João Batista com São João Evangelista, devido às figuras religiosas sempre apresentarem São João como um menininho com o cordeirinho no colo.

João Batista era primo de Jesus, e é também chamado de João, o Batizador, pois foi ele quem batizou Jesus no Rio Jordão, além de ter feito inúmeros batismos em judeus e gentios arrependidos, por isso Batista, o apelido. Instituiu de certa forma o batismo católico na água. O santo morreu com a cabeça decepada a pedido de Herodes, por uma promessa que fizera a Salomé.

No entanto, São João é venerado como o “santo das colheitas”, talvez porque sua vida tivesse um sentido mais próximo da natureza, pois se alimentava de insetos e mel, além de viver como um eremita. Ele está nos cultos populares, sempre olhando para as plantações, como se cuidasse delas. Sua festa é sempre embelezada de flores e plantas.

Nas celebrações, os fiéis levam cestos de alimentos no ofertório, como agradecimento pelas colheitas terem sido boas durante o ano. É costume do povo levantar um mastro, aqui no Brasil com a figura tradicional do santo com o cordeirinho, ornamentado com espigas de milho, cachos de arroz e flores. Esta festa originária da Europa marca o início das colheitas nas regiões agrícolas.

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A vocação deste Santo, considerado pelo próprio Cristo “o maior homem nascido de mulher” é proteger o povo camponês, na sua árdua luta de cada estação para sobreviver e colocar alimentos em nossas mesas.

SÃO PEDRO, PROTETOR DA IGREJA

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São Pedro foi escolhido por Jesus Cristo para ser o responsável pela edificação de sua Igreja “Tu és Pedro e sobre ti edificarei a minha Igreja” (Mt 18:16). Pedro era pescador e possuía com alguns outros uma frota de barcos. Assim tem-se o encontro de Jesus com Pedro, quando o Mestre foi fazer uma pregação e pediu um barco para Pedro para que todos os que lá estavam pudessem ver o Senhor. Começou assim o que viria ser o sucessor de Jesus Cristo e o edificador da Igreja católica.

Após a trajetória de Pedro com Jesus até a morte e a ressurreição do Salvador, Pedro após Pentecostes saiu pregando indo até a Antioquia e de lá até Roma. Segundo consta ficou mais de trinta anos em Roma, até sua morte, no seu martírio na cruz de cabeça para baixo.

São Pedro é venerado como o “santo das chuvas”. Sua imagem mostra Pedro com uma chave em sua mão. Os devotos atribuem a Pedro o poder de controlar o tempo, onde pedem chuva, principalmente em regiões de lavoura e pecuária, cuja importância da água é fundamental para a sobrevivência das colheitas e do gado.

Simbolicamente, por ter as chaves do céu, de onde vêm as chuvas, Pedro é invocado para resolver os problemas da seca, das chuvas excessivas, do tempo em geral.  Nas regiões campestres a devoção a São Pedro é muito grande.

Os devotos cultivam esta reverência, como se São Pedro pudesse fazer com o tempo o que bem entendesse, mas isso faz parte da devoção do povo pelo santo. 

 

PAULO, VOCAÇÃO DE EVANGELIZADOR 

Sempre vemos a imagem de São Paulo com a espada de sua decapitação, como também um pergaminho, recordando que este Santo foi um grande pregador do Evangelho. Saulo de Tarso, depois Paulo de Tarso, conhecido também como Apóstolo Paulo, ficou na História do Cristianismo como São Paulo.

Foi sem dúvida alguma o maior influente do cristianismo primitivo, tendo suas cartas paulinas colocadas no Novo Testamento. Seu papel foi fundamental para a evangelização dos cristãos. Em suas viagens deixou comunidades em todos os lugares onde passou. Paulo propagou o Cristianismo pelo Império Romano inteiro.

No início foi perseguidor dos primeiros discípulos de Jesus na região de Jerusalém. Durante a célebre viagem entre Jerusalém e Damasco, Saulo teve uma visão de Jesus, que estava sob uma grande luz. Ficou cego temporariamente por três dias, converteu-se e foi batizado por Ananias. Por ser cidadão romano possuía uma situação privilegiada dentro do Império Romano.

Após sua conversão mudou radicalmente sua vida e começou sua obra missionária. Ninguém jamais fez na história do Cristianismo um caminho tão fantástico como Saulo fez, através de três grandes viagens missionárias, inclusive em uma delas chegou a sofrer um naufrágio. Foi parar em Roma junto com Pedro. Não escapou a sina dos apóstolos e também morreu martirizado pela fé cristã.



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FESTANÇAS JUNINAS: FOGUEIRAS QUE IRMANAM  

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No Brasil, o mês de junho já é frio, principalmente no sul e as festas então adquirem um cenário diferente do usual, fogueira para embelezar e os fiéis para ficarem em volta dela com seus trajes caipiras.

Na festa junina como é do conhecimento dos fiéis, os participantes vestem roupas típicas, parecidas com a dos roceiros. Acabou-se criando um estilo próprio, estilizado pelo Brasil da herança portuguesa.

Roupas coloridas, casamentos engraçados, comidas típicas, chapéu para os homens, vestidos longos de chita para as mulheres, dança da quadrilha, muita música com sanfona e viola. O quentão é a bebida mais comum e os doces e salgados são pratos típicos do interior do Brasil.

Estes rituais são realizados em torno destes três santos. Levantam-se mastros com seus nomes, soltam-se rojões e balões. Alguns deixam o mastro quase por um ano em local bem visível.

Nestas festas, depois de uma celebração litúrgica (missa, terço ou procissão), partilham-se comidas típicas, como pipoca, batata doce, amendoim, canjica e outros pratos da culinária regional. As tradições são bastante interessantes como andar sobre brasas acesas sem se queimar, tirar a sorte na véspera de São João, como, por exemplo, um prato d´água com a vela acesa com 23 pingos para formar uma letra do futuro namorado (a), nomes enrolados num papelzinho debaixo do travesseiro e outras formas divertidas de festejar os santos.

Estas festas, na maioria das vezes são realizadas em regiões rurais ou nas periferias das grandes cidades, os centros urbanos estilizaram demais e já não se vê o mesmo cenário de anos atrás.

Estas festividades folclóricas do mês de junho são as mais intensas na cultura do povo brasileiro. Representam ao mesmo tempo as celebrações destes santos e trazem os elementos culturais ao seio da celebração litúrgica.

 

 


Prof. João Henrique Hansen –  Pe. Antônio S. Bogaz
autores de Liturgia no Vaticano II: novos tempos da celebração cristã. Paulus. 2015.
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Conhecendo mais…

 
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O MILAGRE EUCARISTICO

Um dos milagres mais bonitos de Santo Antônio é o milagre eucarístico. Um senhor chamado Bergolio, que não acreditava na presença de Jesus na Eucaristia, desafia Antônio de Pádua. 
– Se realmente Jesus está presente na Eucaristia, meu cavalo vai se ajoelhar diante da Hóstia, ao invés de comer o capim. Por mais absurda que pudesse ser, Antônio aceita a disputa. 
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Complementando o estudo, você pode assistir um pequeno filme que conta esta história. É um curta metragem produzido pela Paróquia Nossa Senhora da Saúde com direção do Pe. Antônio Sagrado Bogaz. Acesse aqui o filme:  Santo Antônio e o milagre eucarístico  e confira.
Marcam o desafio para a praça central da cidade, num domingo diante de todo povo. Antônio e os frades rezam sem parar. O homem incrédulo tranca seu animal e o deixa sem comer por uma semana.
Diante de toda multidão, o cavalo dirige-se ao capim, mas o rejeita e sem tocar em nada, volta-se para o Santíssimo, nas mãos de Santo Antônio, e se encurva com reverência. O povo festeja com grandes vivas e o homem Bergolio se ajoelha também diante da Hóstia, junto com seu cavalo. Dizem que se tornou o homem mais devoto da Eucaristia de toda região.