ORQUESTRA DE DEUS

 ORQUESTRA DE DEUS

CARACTERÍSTICAS DO CANTO LITÚRGICO


coral santa luzia

Coral Capela Santa Luzia – Missa Rede Vida

Cantamos as maravilhas de Deus, que criou o universo. Tantas maravilhas. Pela prece, pelo silêncio e pelos gestos, nós louvamos nosso Criador. Mas uma das formas mais elevadas de exaltar o nome de Deus, criada pelo ser humano é a arte. Dentre todas as artes, encontramos a poesia. Não menos exultante é a melodia. Assim se faz o canto litúrgico: uma junção de poesia e de melodia. Por isso cantamos e fazemos versos, para louvar o criador. Contemplando tanta beleza, a louvação nasce do espírito humano como uma expressão espontânea de sua gratidão e de seu reconhecimento.  A louvação é um imperativo do espírito agradecido. Nossa fé se revela em canção e na liturgia a canção se caracteriza como canto litúrgico.

Desde os tempos mais primitivos, os povos louvam o criador, como elevação de seu nome, mas também com súplica em suas aflições. Tudo é louvação, quando temos fé e queremos nos comunicar com o senhor de todas as criaturas.  Acreditamos que, a seu modo, natural e instintivo, todos os seres se comunicam com Deus. Basta pensar nos pássaros contentes, que na alvorada, elevam suas laudes e em nossos arvoredos fazem sinfonias, no crepúsculo inventam suas Vésperas e entoam a louvação divina. Acreditamos mesmo que nossas louvações, encontraram  suas estruturas temporais nas sinfonias dos passaredos, que ao amanhecer e ao entardecer entoam cantigas ao Criador. Podemos afirmar que  mesmo os grupos místicos de vida contemplativa, buscaram nas criaturas as horas propícias da louvação. 

Assim é o canto litúrgico. A fé que se expressa por palavras, sons e atitudes, revelando profunda admiração. E as palavras são embelezadas pela melodia harmoniosa das vozes, que muitas vezes se enriquecem ainda mais com instrumentos de sons e harmonia. Em verdade, como as bandas marciais fomentam nos cidadãos o patriotismo, o canto litúrgico manifestar nosso apreço pelo Deus da vida e conclama o povo fiel para a louvação.

Nas celebrações, os fiéis se reúnem, como comunidade de fé, para agradecer o dom da vida, para suplicar graças, para implorar perdão e comungar Deus. Por meio de gestos e símbolos, silêncio, movimentos e ritos, os fiéis manifestam seus sentimentos por versos e melodias encantadas e encantadoras. É mesmo assim; o canto litúrgico une a assembléia num só coração e num espírito unificador.

Jesus Cristo é o maestro de nossa orquestra de louvação ao Pai, que revela sua misericórdia e nos congrega como família divina. 


CANTAR PARA LOUVAR E CRIAR UNIDADE 

O canto litúrgico não é qualquer canto; é o canto de louvação, prece e oferenda que se entoa nos rituais sacramentais. Mais que cantos de mensagens, são mensagens cristãs. Mais que mensagens cristãs, são textos e melodias que servem aos vários momentos da evolução dos rituais que celebramos em comunidade.

Portanto, procuramos delinear os objetivos do canto litúrgico.  Para atingir tal objetivo com  mais eficiência, fundamentamo-nos no Documento mais importante sobre a Liturgia, promulgado pelo Concílio Vaticano II, a Sacrosanctum Concilium. Para demonstrar a relação entre o canto litúrgico e o ritual sacramental, esta Constituição nos ensina que, “quando a música sacra está intimamente ligada à liturgia, ela exprime mais suavemente a oração, dá maior solenidade aos ritos sagrados e leva o povo a participar mais ativamente (SC 112).

Não é difícil interpretar estas palavras, afinal os padres conciliares nos ensinam que todo o povo reunido para celebrar o Senhor  é convocado a se envolver em unidade, todos os membros, de corpo e alma, na celebração litúrgica. O canto litúrgico unifica a comunidade para melhor servir e glorificar o nome do Senhor.  Pela melodia, os ritos sagrados se tornam mais solenes e harmoniosos. Não são peças artísticas, mas a arte eleva o sentimento e unifica o espírito de todos os fiéis, congregando-os como família em oração, um só povo, unido a um único pastor. Basta notar que a ausência de cantos nas celebrações torna os rituais mais empobrecidos e menos envolventes. Naturalmente, o excesso de cantos pode perturbar os fiéis e prejudicar as demais partes que compõem o ritual, mas a presença dos cantos facilita a prece, a contemplação e a unidade dos membros congregados.

 

BREVE HISTÓRICO DO CANTO LITÚRGICO 

Desde os tempos mais antigos da vida litúrgica, o canto fez parte do ritual, servindo para professar o conteúdo da fé e também elevar os sentimentos. Nos primeiros séculos, o canto servia para aproximar da dimensão celestial, assim que os cantos eram entoados como se fossem anjos entoando melodias, com grande harmonia, variedade de sons e beleza sinfônica.

Se buscamos anotações arqueológicas, nas  comunidades primitivas, vivia-se uma rica coreografia gestual e vocal, muito arraigada a práticas religiosas e sentimentos religiosos e populares.

Os versos dos cantos e os refrões que chegaram até nossos dias  são  numerosos.  Testemunhos são encontrados em vários textos dos Padres da Igreja. Recordamos alguns deles: carta de Plínio a Trajano, grande imperador; na carta de santo Inácio de Antioquia aos Efésios; na obra Pedagogo de Clemente de Alexandria e em textos de Agostinho.

Infelizmente, não temos documentos que nos reportem as melodias.

O interesse pelo canto levou os padres a cuidar da sua ortodoxia, evitando os erros das heresias. Tinham que superar a ideia daquele tempo que considerava a música como uma ciência “especulativa”, própria dos pagãos.  Alguns estudos concernentes ao discurso litúrgico-musical encontramos nos padres mais importantes, como  Clemente de Alexandria, Jerônimo, Eusébio de Cesaréia,  Ambrósio de Milão e João Crisóstomo.

Os padres conhecem o poder sedutor dos cantos profanos e procuram incorporar a música, para o bem da própria comunidade, da fé e da liturgia.  Afrontando estas situações, nossos patriarcas na fé mantêm reservas e cuidados, mas assumem valores interessantes na musicalidade, comunicação e força evangelizadora dos cantos, expressos em salmodias e hinos.

 

CANTO, PARTICIPAÇÃO E UNIDADE COMUNITÁRIA

Uma das principais preocupações dos padres conciliares, reunidos no Concílio Vaticano II, foi o envolvimento mais profundo e efusivo dos fiéis na vida litúrgica da comunidade. Sentia-se que a participação não era integrativa, pois os fiéis podiam mesmo praticas outras devoções durante o culto, as quais, ainda que valiosas, estavam fora de seu espaço litúrgico. Por certo, a língua latina, dificultava esta integração entre os fiéis e os passos do rito.

Os padres conciliares e todos os esforços dos liturgistas e equipes de liturgia, nas últimas décadas, tem sido a realização dos  grandes objetivos das ações litúrgicas, que aplicamos ao canto litúrgico: Reafirma-se que o canto litúrgico, para ser eficiente eficaz deve estar atento a estes propósitos:

1 – Promover a  participação plena.

É a identificação cada vez maior com o mistério de Cristo, promovido pelo canto nas celebrações. Importa deixar a música conduzir-nos à presença do Senhor e, uma vez revestidos do Cristo, deixar-se levar por Ele. A assembleia incentiva pelas melodias e suas letras, integra-se ao conteúdo da liturgia.

2 – Fomentar a  piedade.

É muito pouco  dizer “Senhor, Senhor”, bem sabemos. Mas a cantoria deve promover a elevação espiritual dos fiéis. Vale a pena deixar que a música nos leve a um diálogo orante com o Cristo e assim, sentirmo-nos filhos do Senhor da vida. Cantamos rezamos melhor.

3 – Incentivar o compromisso.

É bom rezar, mas a oração verdadeira nos leva ao compromisso. A música deve nos levar a uma celebração que nos converta a fazer “algo mais” (cf. Fm 21), a nos comprometer com a sorte dos irmãos. A veracidade da liturgia consiste no empenho com os irmãos, sobretudo os mais necessitados.

4 – Aguçar a  fecundidade.

 A verdadeira música litúrgica  nos conduz a uma celebração que dê frutos e  que nos faça partícipes da missão de Cristo. Se o canto for evangelizador, ele nos dá coragem para assumir as ações transformadoras para as quais somos chamados.


CANTAR  CELEBRANDO, CELEBRAR CANTANDO

O CANTO deve levar sempre à celebração fundamental do Mistério Pascal. Como insistem os nossos patriarcas da fé, é importante que a música nos faça perceber a centralidade  do Cristo na celebração. Ele é o protagonista de toda celebração e  por sua melodia, sabemos que o Senhor nos fala e nos evangeliza.

Todo canto visa formar a consciência dos fiéis. Pensando assim, descobrimos que a música é  uma forma de manter nossa mente “acordada”. Pelo canto, nossa inteligência fica unida a Deus,  ou seja, atenta não só às palavras, aos gestos e às ações, mas nos leva a uma meditação profunda da Palavra de Deus e a discernir, nos sinais dos tempos, a presença do Pai.

Mesmo que o canto deva  os sentimentos, evite-se sentimentalismos, que exaltam e emocionam, mas podem não compreender. Sabemos que a luta pela sobrevivência diária muitas vezes nos leva a agir de forma excessivamente racional. Que a música, dentro da ação litúrgica, deixe aflorar nossos sentimentos de alegria, louvação, confiança na súplica, tristeza nas lamentações, indignação ética na profecia. Que as equipes de canto sejam formadas para equilibrar as emoções e a razão, para evitar o desgastante sentimentalismo, bem como o excessivo racionalismo. Cantar toca os sentimentos e eleva a alma, para que nossa inteligência toque o mistério divino e a graça divina transforme nosso coração.

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz – Prof. João H.  Hansen – Pe.Rodinei C. Tomazella

Família de São Luís Orione