NA CARAVANA DO NATAL

NA CARAVANA DO NATAL,

JESUS ESTÁ CHEGANDO

 

Na realidade mundial podemos sentir em todos os cantos e recantos da sociedade a aproximação do período natalino. Quem vive em países culturalmente cristãos como os países ocidentais, leva um grande susto se viver este período em países sem tradição cristã e católico. Em países de outras tradições religiosas não cristãs, o fenômeno natalino que vivemos está totalmente ausente e pode causar uma estranha impressão, gerando uma certa frustração, anotada por uma angústia silenciosa e profunda. Não basta a constatação deste fenômeno mundial, uma vez que não é tão habitual daquilo que vivemos.

Vivemos mais próximos de uma sociedade de tradição cristã, gestada ainda na cristandade e que mantém estes traços formidavelmente religiosos. Entre nós, a presença cristã não é tão límpida assim, pois é comum vermos decorações e movimentos natalinos que boicotam escandalosamente a figura de Jesus. Trata-se de uma apropriação maléfica e abusiva de um mercado que manipula os elementos cristãos em favor de valores capitalistas vestidos de fantasias. Vamos compreender os elementos exteriores e expressivos do mistério da Encarnação do Verbo, que devem elevar-se no meio dos interesses espúrios, que finalmente desvirtuam o sentido do maior acontecimento da história da humanidade.


mensageiro - natal 2015

UM OLHAR NATALINO NO UNIVERSO SOCIAL

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A cidade se veste de beleza, no olhar, nos sons, nas vitrines. É o período natalino. De fato, em todo o mundo, nenhuma festa é anunciada com tanta dedicação. As pessoas apressadas, excitadas, mais felizes.

É assim mesmo, caminham mais excitadas e mais animadas, como se fugissem da ventania. É final do ano, mais um ano e temos a impressão que o tempo caminha mais veloz.

São tantos compromissos: compras, presentes, amigo-secreto, brinquedos, comidas, árvores natalinas e tantos requisitos. Toda cidade está enfeitada, colorida, vibrante, preparando uma grande festa, a maior festa do calendário cristão. A iluminação se vê pelas suas janelas e a decoração está nas vitrines.

Como diziam os latinos: tempus in finis velotior. Sim, o tempo é mais veloz, ou parece mais veloz no final. É também tempo de visitas, de rever amigos e mesmo parentes distantes. Este período nos emociona e toca nosso coração, sensibiliza nosso espírito.

Alguns fenômenos são marcantes e destacam a importância do nascimento do Senhor.

 

LUZES FESTIVAS E ALEGRIA

Neste tempo natalício, o fenômeno social se revela mais forte nas ruas e praças; nas árvores e nas avenidas. Vamos percebendo aos poucos que as luzes vão surgindo e anotando que o Natal está se aproximando mais uma vez. De fato, começam a aparecer novas luminares, mais fortes, ocupando todo o espaço e enfeitando de grandes alegrias o mundo. Luzes multicores que piscam sem parar são sinônimo de alegria.

Podemos compreender o símbolo destas luzes aos milhares. Se Deus está para nascer, ele transformará as coisas, dando esperança que tudo será muito melhor. As luzes expressam esta esperança; todos se reanimam contando que tudo será transformado.

Por vezes, são tantas as luzes que as ruas são entrecruzadas como teias de aranha coloridas. Cada um concorrendo para ver seu espaço mais iluminado. Mesmo com as constantes crises, todos querem que as luzes se multipliquem.’As luzes, mesmo que em menor quantidade, aparecerem também nos pequenos lugarejos, nas cidades do interior.

 


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Participam também do festival das luzes, multicoloridas, cores vivas e cores sempre mais alegres. As luzes marcam o compasso das emoções.

Nas praças das cidades, pequenas e grandes, a vida se enfeita de luzes. As árvores se tornam candelabros destas luzes, os postes se enchem de fios mais resistentes – devem suportar mais luzes e não darem fiasco nos dias festivos.

As cidades todas se tornam um palco iluminado, como se preparasse um grande espetáculo. Palavras escritas, imitações de sinos, velas e laços coloridos, símbolos por toda a parte. Neste universo de luzes, nesta iluminação encantada, como se fosse um conto de fadas que deliciam as crianças, indicam que algo maravilhoso está para acontecer. Alguém importante está para chegar, podemos esperar. 

A festa é de todo povo, dos mais pobres aos mais ricos, dos cristãos e dos pagãos, dos católicos e de todas as religiões. Vale o espetáculo. Deus está para chegar. São indícios de um grande evento para toda a humanidade; Deus entre nós.

 

VITRINES  E PRESENTES NATALINOS

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Novos olhares sociais se revelam no tempo natalino. Mesmo nas praças das pequenas cidades, nos comércios dos grandes centros, as músicas natalinas misturam seus tons entre nostálgicos e alegres com as vozes humanas. Os grandes centros urbanos vão se deixando  vencer pela modernidade. As lojas querem vender o necessário e o supérfluo. Fazer crer que com o necessário se sobrevive, mas que o supérfluo constrói a felicidade.

Vitrines como espelhos mirabolantes de nossas fantasias, de nossas magias. Atrás das vitrines rostos elegantes, bem maquiados, sorrisos abertos nos fazem sentir pessoas importantes. Os votos natalinos de paz, saúde e prosperidade não caminham solitários. Precisam de belíssimas embalagens, contornando belos presentes. Mesmo na crise, recordamos.

Presentear tornou-se uma obrigatoriedade social. É a dádiva, o desejo de demonstrar com presentes os afetos mais profundos. O presente deve ser algo para o deleite da criançada, algo que possa fugir da vida normal. Ele deve extrapolar o universo cotidiano e penetrar na  realidade dos sonhos, na magia dos fetiches. Devem tocar os corações.


OLHAR  FOLCLÓRICO  E POPULAR

Nosso povo, com suas tradições, tem seus valores, seus ritmos e suas danças. Conservamos viva nossa visão de mundo em histórias e símbolos. De fato, todos os povos têm suas fantasias e as manifesta por seu folclore. É nossa identidade religiosa e cultural. É uma fotografia de nossa alma. Vários elementos do folclore de nosso povo brasileiro revelam o apreço e a importância deste tempo litúrgico. Um tempo de luz e de alegria. Tempo de busca de justiça e de bom coração. Tempo de cultivar esperança e de profunda paz. Um dos símbolos mais importantes é o presépio, que se tornou até tema de museu. Importantes montagens em várias partes do mundo, mostrando as cidades, vestimentas e hábitos dos vários povos no mundo inteiro. É o Natal de Jesus narrado em personagens reais e atualizadas, em ambientes variados conforme dos povos de todas as raças e nações. O presépio revela a universalidade de nosso Deus. Do ponto de vista da espiritualidade, o presépio é um espaço sagrado e cheio de encantamento místico. A tradição ensina que na noite de Natal é colocado o Menino Jesus entre os personagens presentes, sobretudo Maria e José, numa pequenina manjedoura. Na semana seguinte, aparecem os Reis Magos. Toda tradição tem seu ritmo e repete a história para que seja eternizada no coração das novas gerações. Em outros tempos, a louvação se realizava na noite de Natal pelos pastores, em nossos dias, celebramos esta emoção com rezas populares, rosários e benditos.

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Reza a tradição que não se pode deixar de montar o presépio antes de sete anos de sua inauguração. Assim, as famílias privilegiadas que montam o presépio o fazem por vários anos, tornam-se centro de visitações e elogios e o fazem por dezenas de anos. Tornam-se uma tradição de família e revela a grandeza de uma devoção maravilhosa. Estas fazem promessas de montar o presépio e esta promessa deve ser realizada por sete anos seguidos e tornam-se, mais tarde, uma tradição da família, que vai sendo passada de pai para filho. Os estudiosos da antropologia religiosa, no capítulo que aprofunda o “catolicismo rústico”, descrevendo a originalidade das tradições camponesas, caboclas e caipiras dizem que “o  presépio é a alma viva da família e merece respeito e devoção, pois as coisas sagradas daquela família são apresentados dentro de uma grande harmonia estética”. Mesmo que implicitamente, o presépio é montado para engrandecer o coração deste tempo litúrgico: o menino pobrezinho da manjedoura.


SINOS E ANJOS

Em verdade, nem sempre nas luzes da cidade aparecem os sinais evidentes desta grande festa da humanidade. Muitas vezes, o bom Velhinho, é maior do que o Menino Jesus. Mesmo que aponte para o Natal, para as crianças e para a alegria, nem sempre os canais sociais conduzem nosso olhar para a manjedoura. Devemos estar atentos. Mas tudo deve servir para engrandecer a festividade de um Deus que desce do infinito e se aloja em nossas misérias cotidianas.

Há uma sinfonia de símbolos que levam para a manjedoura. Citamos o galo  que se vê sobre as casas e desenhado nos cartazes das crianças da catequese. Seus olhos muito sensíveis cantam seu estribilho à chegada de um novo dia. Naquela madrugada, o galo anunciou o nascimento do Menino Deus.

Os sinos fazem parte da antiga tradição. Os sinos aparecem por toda parte e parecem repicar a chegada do Deus-criança. Estão enfeitando as torres das igrejas e até mesmo árvores comerciais. Sinos que anunciam o grande acontecimento. Como se badalasse em nosso coração. 

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São tão significativos os sinos que os anjos os sustentam nas mãos e tocam para alegrar o recém-nascido. São os anjos os personagens mais graciosos desta festa. Os anjos dos cartões de “boas festas”, os anjos das decorações natalinas e anjos por toda parte parecem cantar, com harmonia, tornando celestial cada lugar, mostrando que é hora de festejar. E nós, cantando os refrões dos anjos, também sentimo-nos como anjos, Anunciamos ao mundo que o Deus-criança veio participar de nossa história. Se a Árvore de Natal é montada cheia de bolas coloridas, ela é um símbolo da vida que resiste, que sobrevive e protege nossas esperanças. A árvore é a vida da natureza, que clama do coração do planeta para que o ser humano sobreviva e toda criação deve sobreviver. E no alto da árvore, a estrela. A estrela que anunciara a chegada do Menino Deus e que depois anunciara o caminho da gruta aos Reis que vinham do Oriente é, como se diz, “a cereja do bolo”.

A estrela, luz que brilha na escuridão, mostra que a vida brilha nas trevas. Luz é vida é sonho e esperança.


UM OLHAR DEVOCIONAL

Vamos rezar, rezar novenas, benditos, rosários e saraus religiosos. Todos os fiéis procuram viver a mística deste tempo litúrgico, fazendo dele um período de aproximação com Deus e de solidariedade com os irmãos. Mais gente nas igrejas, mais fiéis nas missas, milhares de grupos rezando as novenas e círculos bíblicos.

As celebrações litúrgicas deste tempo apontam caminhos alternativos para viver uma mística harmonizante entre o memorial da fé e a história humana. Os fiéis integram a solidariedade divina com a caridade humana. Encontramos estes valores, tanto nas liturgias mais oficiais, como as celebrações eucarísticas, serviços religiosos e confissões comunitárias, como naquelas mais populares, como as novenas, procissões e louvações.

Recordemos a coroa do Advento, as velas acesas nas quatro semanas, as novenas e os rosários nas famílias e nas ruas. Com o fogo do círio pascal, acendemos as velas. Deus, feito criança está para chegar. A coroa representa a espera do Rei, que virá revestido da simplicidade de uma criança. A coroa dos reis será a manifestação de que o nosso Rei é a criança da manjedoura.

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No imaginário, certamente universal, a realeza está ligada ao poder, à beleza e à sabedoria. O poder real é revestido de poesia e de elegância. Velas e coroas, panos coloridos no altar e presépios formam o universo preparatório das festas natalinas. São tantos os personagens, todos maravilhosos, com sua mensagem a transbordar. Eis que entra Isaías, clamando ao povo esquecido de Deus. Segue-se João Batista, clamando no deserto e na cidade. E Maria com a sua criança nos braços. Os pastorezinhos graciosos e humildes, com suas faces estupefatas ao som dos anúncios dos Anjos.


 UM GRANDE APELO: NÃO ESQUECER O ANIVERSARIANTE

Neste olhar social, tão maravilhoso e cheio de encantamento, fica-nos um apelo muito importante. Não podemos esquecer o aniversariante, Jesus. Pode ser uma indagação repetitiva, mas é preciso um grande esforço para não se esquecer de rezar, de visitar doentes, de refazer laços de amizade feridos e de abraçar familiares e amigos. É preciso ser Natal, para que toda festa nos leve à manjedoura, simples e humilde, nos ensinando os valores fundamentais da humanidade.

E basta olhar a Sagrada Família, o olhar bondoso e protetor de José, que não desvia sua atenção do menininho e de sua mãe. Basta sentir o calor maternal de Maria, que derrete-se em ternura e carinho para seu presente celestial. 

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E o menino repousa serenamente, com a certeza da proteção de seus pais.

Apesar da pobreza monumental, do descaso social, o lar de Nazaré, hospedado numa gruta marcado pela simplicidade é o campo da felicidade. Leva-nos para os lares pobres, com mães e pais cuidando de seus filhos, apesar dos dramas sociais em que vivem, procurando condições para sobreviver.

Cada lar, torna-se um presépio vivo, onde a esperança renasce a cada dia e Deus renova sua confiança na humanidade.



 


Prof. Antônio Sagrado Bogaz  – Prof. João Henrique Hansen

Autores de Novos tempos, novos templos. Paulus: 2015

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A ORIGEM DO NATAL
A montagem do presépio tem origem nos primeiros séculos do cristianismo, especialmente na gruta que Jesus nascera, conforme atestam as tradições.
Uma vez, no entanto, popularizado a partir de São Francisco de Assis (1223), que na sua singela fé recebera, conforme a lenda nos conta, o próprio menino em seus braços, o presépio vai sempre vestindo as tradições culturais de cada povo, que veste seus personagens humanos com roupagens típicas, acrescentando ou eliminando espécies de animais ou mesmo construindo os edifícios do presépio conforme a própria arquitetura. É impressionante a enculturação da montagem dos presépios.
Tão verdade, que poderíamos descrever o ciclo da cultura através das representações dadas em seus presépios.
Nas famílias o presépio é um espaço para todos os elementos bonitos da tradição familiar.
Colocam-se imagens variadas de santos, muitos espelhos, toalhas coloridas, peças artesanais,
souvenirs e muitos apetrechos. Em espaços por vezes muito pequenos, num canto da sala, são montados, numa disposição peculiar, muitíssimos objetos tidos como sagrados pela família que erige o presépio. 
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MISSA DO GALO?
Noite de Natal. Mundo em encantamento, luzes cintilam por toda cidade, viva a alegria em todos os recantos onde pulula mais que nunca a vida humana.
Ninguém pode ir dormir. Meia noite. É Natal.
Vamos à Missa do Galo ou vamos fazer nossa oração em família, toda a família reunida.
Os cristãos se reúnem nas Igrejas, nas capelas e nas catedrais para a celebração da Missa do Galo. Uma missa festiva, cantando alegremente o Glória in Excelsis Dei. Cantando com alegria. Uma alegria que até recebe um nome diferente. Pois bem, um júbilo.
Luzes apagadas, velas acesas e coisas mais emocionantes ainda que a equipe de liturgia preparou para celebrar o grande acontecimento: Hodie  natus est! Deus está presente entre nós. Hoje Ele nasceu, na feliz expressão de Leão Magno, em suas fabulosas homilias de Natal, querendo fazer-nos compreender a grandiosidade da encarnação de Deus, numa pessoa criança.
A comunidade celebra sua missa festiva. Começando à meia-noite. Ou fazendo com que seja terminada à meia-noite. Este é o momento central: à meia-noite deve-se dar o abraço de Feliz Natal. Todos devem se cumprimentar, com os votos renovados do Deus que se fez carne e veio habitar entre nós.
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