Ministérios Litúrgicos

MINISTÉRIOS LITÚRGICOS E ECLESIAIS

NAS RELIGIÕES  E NO CRISTIANISMO


Em todas as práticas religiosas, em todas as culturas e povos, encontramos os serviços dos ministros sagrados, que realizam seu rituais, sempre investidos de poderes espirituais, que lhes são atribuídos por Deus e legitimados pelas suas comunidades.

Os serviços ministeriais são outorgados pelos  poderes eclesiásticos, que os acolhe e os legitima, para servir o culto, celebrar os rituais e escrever seus oráculos, representando o próprio Deus. 

Como todas comunidades religiosas têm seus próprios textos sagrados, quer dizer, suas bíblias e seus testamentos, estes ministérios estão inscritos em seus textos, desde sua origem, comandada pelo próprio Deus, por meio de profetas e patriarcas.

Todos estes ministérios são importantes para a comunidade religiosa e normalmente apresentam hierarquias e diferentes divisas, conforme são apresentados nos livros sagrados. 

Todos estes ministérios devem ser respeitados e valorizados conforme suas próprias instituições. São eles que definem os serviços e as competências no culto, na evangelização e na acolhida dos membros dentre da comunidade.

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Encenação Semana Santa – Paróquia Nossa Senhora da Saúde

São ministérios eclesiais e litúrgicos, enquanto servem a comunidade e a organiza, para sua edificação e  seu crescimento, mas sobretudo se destacam nas atividades litúrgicas, para a validade e a organização dos rituais.  Pertencem à natureza humana. Cícero dizia em seus escritos: podereis encontrar comunidades humanas sem muralhas, sem exércitos e mesmo sem palácios, mas jamais encontrareis comunidades humanas sem templo e cultos. São da índole da natureza humana e pertencem a seu próprio espírito. Portanto é válido conhecer seus estatutos históricos.

 

MINISTÉRIOS NA HISTÓRIA

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Coleção Teologia para Catequese – Paróquia N.Sra.Saúde e TV Claret

Voltemos no tempo, séculos antes de Cristo e fora da linhagem da tradição judaica. No Antigo Egito, que foi uma das civilizações mais adiantadas do mundo, os sacerdotes ocupavam dentro da hierarquia social a segunda posição, acima deles somente os faraós.

Os sacerdotes sempre foram considerados sábios e sempre procuraram estudar muito, para servir a comunidade, conhecendo os oráculos divinos, para atuar nos momentos difíceis e de encruzilhada no destino do povo.

Os sacerdotes e outros ministérios tinham várias atividades. Além de atuar na parte espiritual, administravam as riquezas e os bens dos templos egípcios. Ficaram conhecidos, também, por guardarem os segredos das ciências e dos mistérios religiosos. Eram personagens sagrados dentro da religião.

Mesmo entre os sacerdotes, como hoje, temos o Papa, Bispos  e padres, eles também mantinham uma hierarquia dentro do Sacerdócio, sendo o Sumo Sacerdote, o principal na hierarquia religiosa egípcia.

Como hoje temos ministérios que servem nos rituais litúrgicos, naqueles tempos antigos também encontramos atividades específicas nos rituais de iniciação, de ceia, de matrimônio e de sepultamento.                                               

Os grandes sacerdotes tinham um prestígio muito grande e que permaneceu até o chamado Período Tardio do Egito. Mesmo os outros ministérios eram prestigiados e se esperava deles grande sabedoria, santidade e dedicação ao povo.

Caso contrário, o sacerdote poderia ser amaldiçoado e excomungado.  É interessante que eles não apareciam nas pinturas das paredes dos templos, pois isso era competência apenas dos faraós, que eram merecedores por estarem mais próximos e representados pelos deuses.

Os sacerdotes  eram servidores dos deuses, enquanto os próprios faraós eram tidos como semi-deuses. Parece estranho, mas era assim que se constituíam os ministérios egípcios antigos. Grandes líderes religiosos que hoje se apossam de grande riqueza, com certeza seriam facilmente expulsos das tribos, devendo vagar pelos desertos, sem comida e sem água.

Os sacerdotes egípcios se dedicavam aos estudos das artes, ciências, leitura, escrita, engenharia, matemática, geometria, astronomia, espaços e cálculo do tempo. Estudavam muito e tinham grande responsabilidade junto ao povo. Se errasse, poderia ser apedrejado até a morte. Também, em menor responsabilidade, era a responsabilidade dos vários ministérios dos rituais.

 

MINISTÉRIOS NA TRADIÇÃO JUDAICA 

Existe uma semelhança entre os vários ministérios dos diversos povos. Podemos  perceber a equivalência nos seus serviços, embora em cada grupo humano, existem características particulares.

Podemos notar as mesmas funções sagradas nos grupos indígenas e nos grupos de origem africana em nosso país. Vamos reconhecer algumas características na religião do povo hebreu, para entender melhor os ministérios dentro da tradição cristã. No judaísmo, antes de terem uma organização particular do sacerdócio, eles tiveram pessoas investidas de missão religiosa designada para a ação sacrifical.

Estes eram ministérios litúrgicos criados para servir ao culto do povo e muitas vezes eram ministérios populares. Basta folhearmos as páginas bíblicas e estes exemplos se repetem indefinidamente, particularmente nos primeiros livros sagrados. Basta pensar que o livro do Levítico tem os ministérios litúrgicos como sua principal finalidade. Deste modo, temos que raciocinar em termos dos nomes bíblicos que aparecem revestidos de ações sacerdotais. 

São tantos, escolhemos apenas alguns exemplos, como  Caim e Abel (Gn 4,3ss), que fazem suas oferendas a Javé, exercendo um ministério sagrado;  Noé (Gn 8,20), que é escolhido para fazer sacrifícios a Deus pelos pecados do povo,  Abraão (Gn22,13),  o qual chega a ofertar seu filho Isaac para agradar a Deus, que depois foi substituído por um cordeiro e ainda Jacó (Gn 31,54; 46,1), que oferece com os filhos sacrifícios para louvar a Deus, entre tantos.

Celebração do Pessah

Paróquia Nossa Senhora da Saúde

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E é importante lembrar que estamos apenas começando as narrativas, uma vez que estes testemunhos se estendem ao longo de todos os livros do Antigo Testamento. Portanto, antes da Monarquia, os sacerdotes pareciam estar mais relacionados com a arca ou algum templo, santuário ou tenda onde ele seria o funcionário ou o guardião do local.

Era possível, também, que administrasse esta função,  por meio de oráculos, uma vez que falavam sempre em nome de Deus. Encontramos esta função  nos templos, reconhecidos como espaços sagrados, destinados ao culto e à louvação divina (1Sm 22, 10. 13.15), mas também em montanhas, vales, rochas e cachoeiras, como se relata nos livros dos profetas.

No entanto, os sacerdotes do antigo Israel não eram adivinhos, nem videntes, podiam assumir ocasionalmente uma função sacrifical para o culto, algo que todo homem poderia fazê-lo. Eles são tomados de poder, concedido por Deus e legitimado pelos livros sagrados. Evita-se o exercício das magias e adivinhações, por se contraporem ao espírito religioso de Israel.

No seguimento da tradição, quando surge Moisés dentro da história do judaísmo, ele se torna o maior mediador entre Deus e seu povo. Trata-se de um sacerdócio especial, com poucas equivalências em Israel, sendo aproximado apenas por Davi, Elias, Jacó e, no princípio, a figura de Abraão. Com a presença de Moisés, temos praticamente criada a função de sacerdote feita por Deus, através das leis dada a Ele no Monte Sinai.

 

MINISTÉRIOS NOS TEMPOS DE JESUS

Os primeiros sacerdotes judaicos foram portanto Aarão e seus filhos (Nm 15, 17). O exercício das várias funções ministeriais são antigas e estão presentes desde as primeiras páginas do Gênesis, mas sua oficialização se dá com a lei mosaica. Aarão se tornou o sumo sacerdote, exatamente como na hierarquia egípcia. Podemos ver a proximidade da relação, se recordarmos que Moisés foi criado como um príncipe egípcio. Ele viveu naquela tradição  e havia estudado profundamente muitas disciplinas, devido seu status real, até o nome de sumo sacerdote foi herdado do próprio Egito.

A função de um mediador entre Deus e seu povo era, entre tantos afazeres, de orar e posteriormente fazer sacrifícios, utilizando os animais como oferenda, em favor de seu povo. Este ministério primordial era rodeado e enriquecido com tantos ministérios de várias modalidades, sempre numa linhagem hierárquica. Nesse contexto, originou-se  o holocausto dos animais, no tabernáculo e depois no templo de Jerusalém.

Esta tradição atravessa a história e se prolonga até a destruição do Templo de Herodes pelos romanos (ano 70 d.C). Neste entretempo, quando Cristo nasce, o templo já está com seus sumos sacerdotes bem ordenados. Eles, com seus incontáveis ministérios lideram  o povo judaico. Estes, embebidos de poder e privilégios, contestam a pregação de Jesus e bem sabemos o que acontecerá quando Cristo começar sua missão entre os hebreus de seu tempo.

A partir da volta de Cristo ao Pai, temos nos apóstolos a função dos primeiros sacerdotes cristãos. Interessante notar que Cristo nunca foi um sacerdote no sentido da hierarquia dos hebreus.  No entanto, de forma magistral, nas páginas da Carta aos Hebreus, Ele é ao mesmo tempo, cordeiro, ou seja, vítima e sumo sacerdote, único e absoluto.

 

MINISTÉRIO DE CRISTO, MINISTÉRIO DIVINO

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Imagens do filme Pão Divino, a vida de São Tarcísio 

Os ministérios existem para servir ao povo e desenvolver com coragem e pureza o culto a Deus. São serviços humanos, investidos de graça divina, para servir a Deus. Como Cristo é o único e eterno sacerdote, seu ministério é total e indivisível. 

O que dizer então dos ministérios presentes em nossas comunidades deste os primeiros momentos da vida apostólica, como encontramos nas cartas paulinas e nas cartas pastorais? Que fique bem claro, eles são expressão e manifestação do único sacerdócio de Jesus Cristo, como sacerdote da Nova Aliança. 

De fato, na Carta aos Hebreus, como eles conheciam toda terminologia e tradição judaica, seu autor serve-se dos conceitos judaicos para apresentar o próprio ministério de Cristo, fundamentalmente como ministério sacerdotal. 

Nesta Epístola, a pessoa de Jesus Cristo é apresentada para os “seguidores do Nazareno” como congênere ao sacerdócio da Aliança Antiga.

Ele não é aceito, absolutamente, pelos sacerdotes do templo, que o atacam ferozmente quando Ele se assume com Filho de Deus e sacerdote de uma nova Aliança. Todos os seus gestos e suas ações revelam seu caráter ministerial, sobretudo com força profética, como podemos entender nas suas revelações (Lc 4, 24). 

Este modelo de ministério é muito importante e provoca irritação no sacerdócio difuso e viciado dos sumos sacerdotes, que manipulam o povo e os explora. No primeiro livro do Novo Testamento, Mateus deixa bem evidente este confronto (Mt 9, 13).

Mas o ministério de Cristo afugenta as tendências sacrificais dos ritos antigos. Ele não prática oferendas de animais ou de crianças, nem mesmo de outros bens da natureza. Sua própria vida sintetiza todos os sacrifícios e Ele a entrega na cruz, para superar todos os sacrifícios antigos. Esta é a fonte plena de todos os sacrifícios ( Mc 14,24; Mt 26-28).

Estes dons espirituais se realizam na ceia eucarística, onde o pão e o vinho são os bens substitutivos de todo sacrifício. Nasce aqui a ceia eucarística, que esta na base de todo ministério litúrgico. 

De fato, nasce uma tradição, a Ceia do Senhor, definida como “caena domini” que contrapõe os antigos sacrifícios (1Cor 10,14-22). É a ceia derradeira, a ceia pascal, que nomeia Jesus como Cordeiro Pascal. (Jo  10,14-36) 

Este é um nome ministério. Vai além do poder político e dos esquemas religiosos Serve à religião, mas não se submete a ela, colocando-a como instrumento de um ritual para servir à comunhão entre Deus e seu povo. Todos ministérios nascem desta essência da ação ministerial de Jesus e são referenciados à sua paixão, morte e ressurreição, quer dizer, seu mistério pascal. Todo ministério deve servir para libertar o ser humano, promovendo um vínculo especial de pertencimento entre Deus e o fiel, mediado por Jesus Cristo. Esta é a tarefa dos ministros de Cristo: exercer na história a misericórdia de Deus, que jorra do coração de seu Senhor. Este é um vínculo de confiança e amor.

Seu sacerdócio, que tem caráter messiânico e universal se encerra, como ápice, e se origina, como fonte, no modelo de  Melquisedec ( Hb 6, 20; Sl 110,4). O ministério de Cristo, origem e fonte de todos ministérios é eterno, imutável e  perfeito. Somente nele os ministros ordenados e não ordenados em encontram fundamentação e sentido para serem realizados, para a glória de Deus e o bem do seu povo.

 

MINISTÉRIOS: LOUVAÇÃO E SERVIÇO

Nos vários contextos religiosos, procuramos encontrar a base antropológica e religiosa de nossos ministérios cristãos, presentes nas comunidades.

Estes ministérios ganham relevância e precisão nos cânones do Direito Canônico e no Catecismo da Igreja, que oficializam e definem a tradição para nossos tempos eclesiais, na caminhada pós Vaticano II.

Antes de tudo, se define o sacerdócio, como ministério supremo, base para todos os ministérios subjacentes. Tem caráter religioso e sagrado, mas atua também no campo da ética, da política e da sociedade. 

Estes ministérios têm muitas funções, mas sobremaneira  é apresentado como “mediador oficialmente reconhecido entre o homem e Deus, entre o contexto social humano e o mundo divino”.

Mesmo sendo uma missão especial e sagrada, deve ser sempre valorizada pela sua coerência e sua eficácia diante do povo a quem deve servir, ou melhor, à sua consagração a Deus, que se concretiza no serviço ao  povo. 

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Imagens do filme Pão Divino, a vida de São Tarcísio

Os ministérios devem servir ao propósito da liturgia, como nos é ensinado pelo Concílio Vaticano II: “é a participação no múnus sacerdotal de Jesus Cristo, para louvar a Deus e santificar os fiéis” (SC n. 7). Por esta razão, não se pode conceber o ministério senão para elevar o nome de Deus e servir seus filhos, com dedicação e devoção. Não se pode conceber ministérios como privilégio e nem como fonte de enriquecimento. Neste momento histórico, no qual tantos ministérios têm servido para enriquecer líderes religiosos sem escrúpulo que iludem, servindo-se profanamente do nome de Deus, para ajuntar grandes riquezas e viver em situação de privilégio, sentindo-se superior aos demais fiéis. 

Na Igreja, todos os cristão participam da mesma missão da Igreja (CNBB, doc. 62), para realizar a missão no coração da comunidade (missão ad intra) e para servir como fermento no mundo (missão ad extra). O ministério deve ser um caminho de santidade pessoal e engrandecimento de todo corpo eclesial.  Nisto consiste a grandeza de cada ministério, ordenado e ministerial, ou laical: instaurar o Reino de Deus na história da humanidade.

 


Pe. Antônio S. Bogaz  – Prof. João H. Hansen
autores de Novos tempos da Liturgia cristã. Paulus: 2015
PBJH

Conhecendo mais… 

ORIGEM DO SACERDÓCIO JUDAICO
Os sacerdotes pertenciam à comunidade dos levitas, presentes nos ritos sacrificais do templo. Estes ritos, com animais apresentados pelo povo  ou com produtos da agricultura, eram oferecidos pelos sacerdotes, em rituais sacrificais. Não se pode esquecer que, muitas vezes, estes ritos tornavam-se expressão de um paganismo comercial, que provocava fortes críticas por parte dos profetas (Is 1, 11 ss) e do próprio Jesus Cristo, quando se indignou com o perverso comércio explorador do povo simples (Mt 21, 12 ss), na aquisição das oferendas religiosas para o sacrifício. Presentes  tão somente nos períodos  em que o templo está edificado e em pleno funcionamento, os sacerdotes são provenientes da tribo dos levitas, eleita por Deus, por ter sido fiel no deserto e não ter praticado a idolatria do bezerro de ouro. Dos três clãs (gersonitas, meraritas e caatitas), Deus escolheu os caatitas, da tribo de Aarão para constituí-los sacerdotes do templo.  Eles cuidavam da formação religiosa do povo, dedicavam-se às oferendas e sacrifícios, zelavam pelo templo e pela atualidade da religião  e ensinavam o povo as leis da Aliança.
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Imagens Encenação Semana Santa – Paróquia Nossa Senhora da Saúde 
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Missa de Lava-pés – Paróquia Nossa Senhra da Saúde 
ESTRUTURAÇÃO CANÔNICA DOS MINISTÉRIOS

Encontramos assim os diversos modelos de ministérios, que são divididos canonicamente, como podemos encontrar:

Em primeiro lugar, os ministérios reconhecidos,  que são valorizados pela comunidade, como serviços  para ajudar o culto e sua realização. São temporais e pontuais, conforme a necessidade da comunidade. Depois, temos os ministérios confiados, destacados para um ato litúrgico com formulas canônicas simples, mas que ajudam, sob mandato, os rituais da Igreja local. Em terceiro lugar, encontramos os ministérios instituídos, que por sua vez são instituídos, tem um breve ritual e legitimação episcopal. São muito divergentes entre as várias igrejas locais. 

Finalmente, temos os ministérios ordenados, também definidos como apostólicos ou pastorais. Estes são recebidos pelo Sacramento da Ordem e sua função primordial é constituir a unidade da Igreja na fé, sustentando a tradição, a sucessão e a validade da Igreja através dos séculos.

 

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