CRENÇAS E RELIGIOSIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA – 4ª parte
RELIGIÃO E DIREITO DE ESCOLHA
Ao falar-se de religião nos deparamos com a escolha ou opção do individuo por uma crença, que encontra amparo na Constituição Federal, no artigo 5º, VI, que estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. A opção por uma crença religiosa pode ter seu início no nascimento dos filhos. Os pais, engajados numa religião, ou até mesmo por tradição familiar buscam a Igreja para formalizar o batismo dos filhos e assim, tendem a encaminhá-los a fazer parte do povo de Deus e desta forma, cumprir o seu papel diante da igreja.
Esta opção dos pais, muitas das vezes, com a maioridade os filhos, é renegada e estes são levados a optarem por outro caminho, ou outra crença, amparados pela liberdade expressa na Constituição Federal do Brasil, visto estarem livres de qualquer intervenção de poderes constituídos ou instituições. Portanto, a religião por uma escolha que tem início com a aceitação do batismo, seja por um encaminhamento dos pais ou opção o direito individual está garantido, independente da crença.
Outro ponto que está legalmente amparado, embora intrinsecamente, é a educação religiosa, bem sabemos que em relação aos pais não restringe somente à introdução dos filhos aos ensinamentos da Igreja Católica Apostólica Romana ou outra opção religiosa, mas também amá-los, corrigi-los nos momentos oportunos, vigiá-los de forma coerente, além é claro de dar bons exemplos, conforme a Bíblia aponta em suas passagens evangélicas, que servem como apoio aos pais e ensinamentos aos filhos.
Na educação o pai não dará ao filho alguma coisa que lhe será prejudicial, como exemplificado no evangelho de Mateus: “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir”.
Ainda, a liberdade de crença consoante ensina J. A. Silva, em sua obra, também tem amparo legal, na escolha:, que “a liberdade de escolha da religião, a liberdade de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir a religião alguma, assim como a liberdade de descrença,

Missa do Meio Ambiente – Horto Florestal
a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo. Mas não compreende a liberdade de embaraçar o livre exercício de qualquer religião, de qualquer crença…” (SILVA, 1989).
Com a liberdade religiosa, com o amparo legal, estamos presenciando a busca incessante por uma religião, seja essa ou aquela, por vezes até várias ao mesmo tempo.
Não existe conflito em nossa legislação, a liberdade de religião permite que o individuo faça sua opção com liberdade e o amparo necessário.
Um fato que vivenciamos atualmente, é a disputa entre instituições em busca de adpetos tentando impor conceitos e fundamentos e, por consequência, acabam esbarrando no direito do indivíduo, muitas vezes levando-o a descrença nessas instituições.
Com essas imposições externas o indivíduo é pressionado por seus conflitos internos dos valores fundamentais, ou seja, o direito de liberdade individual.
MÍDIA E RELIGIÃO: OBSERVAÇÕES NECESSÁRIAS

Revista “Jubileu de Ouro – Paróquia Nossa Senhora da Saúde”
Observando a sociedade desde as últimas décadas do século passado, percebe-se um aspecto do comportamento social bastante singular no que diz respeito à religiosidade. É muito fácil ligar a televisão ou o rádio em um programa religioso.
Eles podem ser de inúmeras denominações religiosas e formatos visto as inúmeras expressões de fé presentes na sociedade brasileira neste início de século.
A ciência vaticinou nos séculos XVIII e XIX o fim da religião, mas ainda hoje o ser humano busca na fé religiosa respostas sobre a sua existência e sentimentos. (MARCHIONNI, 2008). A religião ocupa um papel importante na ordenação da realidade e na afirmação do sentido da existência.
É uma opção para o enfrentamento das ameaças de um mundo em transformação e fragilizado na vida interior. (TEIXEIRA, 2011)
Este texto, com foco na presença cotidiana de temas religiosos na mídia, em especial na televisão, visa mostrar os usos e os sentidos que essa mídia religiosa vem alcançando na sociedade brasileira, e qual a sua influência na ação de uma religiosidade mais autônoma e individualista que hoje encontramos. Estas reflexões decorrem de leituras e análises de artigos e livros publicados sobre o assunto, citados no decorrer do texto.
Estudar estes aspectos implica em lidar com questões complexas e de difícil entendimento. As reflexões dizem respeito às principais denominações religiosas do momento entre as quais o catolicismo, protestantismo, pentecostalismo e neo-pentecostalismo, embora se observe, também, na mídia, programas que enfocam outras denominações religiosas e de origem oriental. Salienta-se que este texto não faz uma análise teológica ou avaliação sobre os programas comentados, vistos apenas como fenômenos sócio-religiosos.
Hoje, além dos encontros específicos nos seus templos com pregações, doutrinação, proselitismo, cultos e adoração, as religiões estão também na mídia (BUDKE, 2005).
Isto pode ser questionado em alguns casos, visto que, algumas vezes não se percebe se os objetivos dessa mídia são os valores religiosos ou são programas que disputam audiência e influência com programas de espetáculos, shows musicais, esportivos e de variedades.
Mídia é aqui entendida como o conjunto de meios de comunicação audiovisuais (TV, radio, etc.) serviços de telefonia de atendimento, impressos (livros, revistas etc.) e virtuais, além de outros meios como camisetas, adesivos, etc. (BELLOTTI, 2004). Este tema – mídia e religião – tem despertado interesse e já foi motivo de congressos e simpósios.
A religião católica, majoritária no Brasil, está presente na mídia, inicialmente de forma conservadora. No caso da igreja Católica, no século XV o papa Inocêncio VIII escreveu um documento sobre a mídia, o “Inter Multiplices”, exigindo censura para as publicações, pois afirmava que muitas idéias contrárias à fé e aos bons costumes estavam sendo difundidas (CABRAL, 2007). O Concílio Vaticano II (1962-65) tratou especificamente deste tema e elaborou um o documento “Inter Mirifica”.
É um documento marcado pela abertura que caracterizou os documentos desse concílio. É um documento relevante reconhecendo que a ação pastoral deve utilizar os meios de comunicação, suas tecnologias e espaços, incluindo o cinema e teatro. Também, sobre este assunto se posicionou a Conferência Episcopal Latino-americana (CELAM) nas suas reuniões de Medelim-1968, Puebla-19879, Santo Domingo-1992 e Aparecida-2007 (PUNTEL, 2012).
Desde os anos 70 do século passado, a igreja católica verificou a importância dos veículos de comunicação para a evangelização dos povos. Então, ocuparam-se pequenos horários da programação no rádio e televisão. Hoje vai além e adquire veículos de comunicação para divulgar os valores cristãos (CABRAL, 2007). Entre as redes de televisão católicas contamos com a Rede Vida, Século XXI, Canção Nova, Rede Claret que têm entre suas atrações nomes nacionais como Padre Marcelo Rossi, Padre Fábio de Melo, entre outros.
Os produtos da mídia religiosa, ainda que constituídos com objetivos específicos de evangelização e instrução, etc., podem ganhar outros sentidos quando partilhados com um público heterogêneo em relação à religiosidade e cultura. Religiosidade é um conceito importante nesta análise. Entende-se por religiosidade a forma e o sentimento com que cada indivíduo vive suas crenças e práticas religiosas, independentemente de estar filiado a uma instituição religiosa (BELLOTTI, 2004).

Padre Antônio Sagrado Bogaz Paróquia Nossa Senhora da Saúde – Missa na Rede Vida
A religiosidade pode ser inconstante, sujeita a questionamentos existenciais, a pressões e incentivos do grupo. Por isso, ela é conceito que deve ser considerado para se entender a mensagem recebida de programas da mídia religiosa (BELLOTTI, 2004). Porém, existem outros conceitos de religião como o apresentado por Marchionni (2008) como sendo “um conjunto organizado de pessoas cujo objetivo é a união do homem com Deus”. “Trata-se de uma “Religião Adulta”, estudada e praticada, que evolui do estágio infantil para o maduro, distinguindo-se do fanatismo e do puro sentimentalismo, como também, da religião praticada apenas como tradição social” (MARCHIONNI, 2008, p.234) e cultural, diferenciando-se ainda das filosofias cósmico-espiritualistas panteístas.
Falar “dessa religião” em tempos de pós-modernidade e de religião midiática significa contrariar idéias pré-concebidas de liberdade. Esta religião vive da obediência filial ao Criador (e aos pastores), enquanto na pós-modernidade a idéia de obediência a poderes superiores não faz sentido. O catolicismo, e outras poucas denominações, ousa se posicionar frente a questões éticas impopulares, buscando ser ouvida (MARCHIONNI, 2008). Este conflito pode ser uma das razões do surgimento de muitas denominações religiosas, mais tolerantes em termos de obediência, ética e racionalidade.
A religião católica, majoritária no Brasil, está presente na mídia, inicialmente de forma conservadora. No caso da igreja Católica, no século XV o papa Inocêncio VIII escreveu um documento sobre a mídia, o “Inter Multiplices”, exigindo censura para as publicações, pois afirmava que muitas idéias contrárias à fé e aos bons costumes estavam sendo difundidas (CABRAL, 2007). O Concílio Vaticano II (1962-65) tratou especificamente deste tema e elaborou um o documento “Inter Mirifica”.

Missa Rede Vida – Coral: Capela Santa Luzia
A luta pelo domínio do campo religioso é uma realidade. A mídia oferece diversos exemplos de como as diferentes idéias religiosas se digladiam na conquista de novos adeptos.
Essa violência ainda que não beire os excessos dos fundamentalistas, está sempre presente, principalmente no campo simbólico, cujo espaço de combate é representado pelos meios de comunicação de massa (MARTINO, 2001).
O desenvolvimento da religião mediática obrigará a reformulação das estruturas religiosas que até hoje conhecemos e que foram consideradas “essenciais” para a vivência da fé até os nossos dias.
A boa espiritualidade está ligada com qualidades e virtudes do espírito humano, com a capacidade de amor, de compaixão, delicadeza e fraternidade.
Mas podem ser desenvolvidas e aprimoradas sem o convívio na comunidade? No santuário virtual, o animador estará situado à distância e fiéis isoladosreduzidos às suas vidas individuais. E a essência da vida cristã que é a vida em comunidade na qual o Cristo se revela, onde será encontrada?
veja a conclusão do artigo…