BEM-AVENTURANÇAS
UM CONVITE DIVINO
Encenação Semana Santa – 2016 – Paróquia N.Sra. Saúde
As bem-aventuranças pertencem ao discurso de Jesus, proferido num quadro de grande inspiração. Ele coloca-se como grande pregador dos ensinamentos divinos e convida o povo para transformar suas vidas. Trata-se de um convite para aqueles que querem seguir mais de perto seu projeto de vida e pretendem se tornar servidores do Reino de Deus.
Trata-se de um discurso de contradição, pois coloca como preciosos os valores que o mundo dos homens rejeita e esquece.Assim que bens cristãos como a simplicidade e a humildade são colocados como comportamentos preciosos, num mundo que eleva, na prática, o luxo e a vaidade. As bem-aventuranças são caminhos para atingir a santidade, portanto faz parte da vocação mais elevada do ser humano. Somos vocacionados para a santificação de nossas vidas e a cada dia esta vocação precisa ser renovada e engrandecida. Entender a lista programática dos seguidores de Jesus Cristo é assumir a própria vocação como um novo modo de ser e de agir no mundo, em todos os tempos, para que se renove a face da terra.
CONVITE PARA A FELICIDADE
Deus nos fez para a felicidade e este convite continua imperando na missão dos cristãos, que devem buscar caminhos que levem para a felicidade, ou seja, a construção de um mundo melhor. Este é um dos textos mais inspirados das pregações de Jesus, que aliás têm ensinamentos de grande sabedoria. Se os homens seguissem estes ensinamentos, seriam, certamente mais felizes e fariam mais bonita a vida no universo. Trata-se de um texto peculiar de Mateus, que é o evangelista que melhor reúne em vários capítulos, as pregações que Cristo fez para seu povo, convidando a multidão para mudar sua forma de viver e se relacionar. É um convite-projeto. Projeto, porque tem uma trajetória de passos para atingir a graça divina e viver no amor pleno. Mais que convite é uma vocação, um dom espiritual, uma força da identidade cristã.
Uma vez que sobe ao monte, Jesus se apresenta como novo Moisés, convidando o povo para atravessar o deserto das condições humanas de sofrimento e pecado, para adentrar a terra prometida, lugar de paz, justiça e felicidade.
Na sua totalidade, a Boa Nova de Jesus é um convite para seguir seus passos. Falamos de uma vocação extensiva a todos os seres humanos, em todos os pontos da terra, sem discriminação e sem limites. Se todo evangelho é um chamado para praticar as virtudes e doar a própria vida na busca de um mundo mais feliz para todos, as bem-aventuranças é uma vocação do Espírito Santo.
Cena do filme “São Longuinho, o santo das coisas perdidas”
Os bens espirituais das bem-aventuranças são passos para viver as virtudes e os dons do Espírito. Cada tópico deste magnífico discurso nos convoca, como vocacionados ao amor, para vencer as tentações e praticar o bem.
Cada frase das bem-aventuranças é um chamado divino para a santidade que nos traz a felicidade.
Caminhando esta trajetória de dons divinos, iniciamos o caminho da felicidade, antecipamos as graças do Paraíso, por isso que as bem-aventuranças são denominadas também como “Beatitude”, que se aproxima da vida feliz.
Viver no céu quer dizer viver na felicidade, viver na graça plena do Criador. Somos filhos da eternidade e caminhamos para ela a cada instante de nossa vida. Por isso, estes passos trazidos neste sermão maravilhoso nos conduz para o encontro com Deus e finalmente para seu reino de felicidade.
Na terra, seguindo esta vocação das bem-aventuranças, estamos antecipando as alegrias celestiais em nossa vida. Por tanto, o caminho da felicidade já é o prenúncio da felicidade.
A LÓGICA DO DISCURSO DE JESUS
Compreendendo o itinerário das bem-aventuranças como uma vocação divina para todos os seres humanos, descobrimos a primeira vocação da nossa vida humana.
A nossa vocação primordial é a dimensão espiritual de nossas vidas. Temos que cultivar os bens do espírito, quer seja sua simplicidade, caracterizada como “pobres de espírito”, promovendo o desapego das riquezas e honrarias fúteis do mundo. Se analisarmos nosso cotidiano, percebemos como perdemos tempos com futilidades e dedicamos energia, tempo e interesse em coisas banais, perdendo a essência dos bens divinos. Ser pobre de espírito significa livrar-se do orgulho e das vaidades que muitas vezes conduzem nosso comportamento e condicionam o emprego de nosso tempo. Elevando o espírito para Deus, nos tornamos mais suaves e mansos, sem ser passivos e mornos. A mansidão é a atitude de acolher bem os irmãos e viver em harmonia com eles, sem palavras agressivas e fúteis, sem violência nos relacionamentos com os irmãos. Não se trata de passividade e medo, mas coragem para vencer a si mesmo e transformar as coisas ao nosso redor.
O salmo nos recorda a graça divina que vem para aqueles fiéis que conservam puro seu coração. Assim, reza o salmo que “aquele que tem mãos inocentes e coração puro, receberá a benção de Javé e do seu Deus salvador receberá a justiça” (Sl 24,4-5).
Puro de coração é ter ética e justiça no coração, em harmonia com o Reino de Deus. É preciso ter coração puro, pois “é do coração que vêm as más intenções: crimes, adultério, imoralidade, roubos, falsos testemunhos, calúnias. Essas coisas é que tornam o homem impuro.” (Mt 15,19-20). Por isso, que é bem aventurado o homem de coração puro.
São bem aventurados aqueles que choram, não porque são chorões e manhosos, mas porque preferem chorar a fazer chorar os outros, porque preferem sofrer que provocar sofrimentos.
Chorar significa ser solidário, partilhar as dores dos irmãos, sentir em si as agruras dos que lutam para sobreviver e enfrentam grandes dores em suas vidas.
A grandeza da alma é a disposição do espírito para buscar os valores que transformam nossas vidas e nos fazem ser mais irmãos.
Nossa vocação é, antes de tudo, o encontro com Deus e, como consequência natural, a prática das virtudes cristãs. Não é verdadeira a vocação espiritual que não se transforme em vocação existencial e leve à servir o Reino de Deus na história.
Exposição Tesouros Especiais – Paróquia N.Sra. Saúde – TV Claret
VOCAÇÃO PARA O IRMÃO
Cena do filme “Memórias do Coração, a vida de Santo Eugênio de Mazenod”
Bem aventurados são aqueles que servem a Deus, que se encontra vivo nos pobres. E como nos ensina Santo Irineu de Lion: “ glória de Deus é o ser humano vivente”.
No coração das bem-aventuranças está o amor de Deus concretizado nos mais pobres. Nossa vocação é Deus, nossa vocação é o irmão. Melhor ainda, se nossa vocação é Deus, ela se realiza no irmão.
Somos convidados para praticar a justiça, socorrendo aqueles que têm sede e fome de justiça e de pão. Aprendemos com esta passagem que ninguém é cristão sem partilhar o pão, sem partilhar seus dons. Este é um convite, podemos dizer, elementar dirigido a todos aqueles que professam o nome de cristão. Portanto, a primeira ação dos filhos de Deus é partilhar. Mas esta atitude que é maravilhosa não se finaliza em si mesma. Devemos ter fome de justiça, para que aqueles que tem fome possam ser saciados. Se temos tanta fome de pão, de saúde e de educação, é porque os cristãos não têm fome de justiça. A justiça é a segurança de pão para os famintos.
“ Vocação é para a bondade, porque a partilha é um gesto de bondade, bem como a solidariedade é um gesto de justiça”. A vocação cristã é para o irmão que estende a mão e suplica por nosso auxílio, por nossa fraternidade.
Nos últimos tempos, a misericórdia tem sido o apelo mais constante da Igreja. Desde que assumiu a “cátedra de Pedro”, Papa Bergoglio, nosso adorável Francisco, tem gritado forte e mais forte, o apelo de Cristo: “sede misericordiosos”. A misericórdia é o outro nome do amor, que é o nome mais lindo de Deus. A vocação do cristão é o amor, é a misericórdia.
Não é verdadeira a vocação se não lançar o olhar para os “miseráveis”. A junção de dois substantivos: “miser” e “cordis”, ensina que nosso coração deve ser entregue aos mais pobres dos seres humanos. Deus ensina: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13).
BEM AVENTURADOS OS CARIDOSOS
São Luís Orione, fundador dos padres orionitas, da Divina Providência, num momento de inspiração, que direcionou sua vida exclama: “Nos mais miseráveis dos homens, brilha mais forte o rosto de Deus”. Nossa vocação pode se realizar no versículo: “bem aventurados os misericordiosos”.
Se quisermos ser felizes, temos que ter misericórdia em nossa vida. Quando falamos de vocação mais profunda, como o convite de Jesus para o jovem rico, ele pede que ele se dedique à misericórdia.
Ofertar tudo que tem para os pobres e entregar sua vida a serviço dos miseráveis, dos pobres da Igreja. Aqui nasce a vocação para a vida religiosa, para o sacerdócio na igreja e sobretudo a vocação dos missionários.
Quem quiser viver mais plenamente a vocação à misericórdia, é convidado a seguir Jesus mais de perto. Esta vocação pode se realizar de tantos modos, mas se realiza mais profundamente na vocação sacerdotal e religiosa.
Não exime que a misericórdia seja o sentimento de todo cristão, seja no matrimônio ou na vida celibatária. Os pais quando renunciam seu conforto e sua tranquilidade para servir a família, estão praticando a vocação da misericórdia.
Cena do fime “Estrela Luminosa, vida e milagres de Santa Beatriz da Silva”
Cena do filme “Frei Galvão, o Bandeirante de Cristo”
Mas esse convite é mais importante para os consagrados como religiosos, religiosas e sacerdotes. O convite está aberto, pois lemos o convite divino em Mateus (4, 17), afirmando: “convertam-se, porque o reino do céu está próximo”.
A vocação primordial revelada nas bem-aventuranças é a elevação da alma. Somos vocacionados para o alto, para o espiritual e para o infinito. Desta vocação, brota a vocação para o serviço aos pobres.
Quanto mais nos elevamos para o “alto”, mais somos lançados para “baixo”, onde se encontram os preferidos de Deus. Ninguém tem mais Deus no coração que aqueles que o encontram nos seus filhos mais abandonados.
Eis os misericordiosos. Tendo-nos encontrado com Deus na dedicação aos irmãos, descobrimos nossa vocação para a nobreza. Da nossa pobreza, vista como humildade, desperta-se a nobreza.
Não há maior nobreza que encarnar na própria vida a pobreza.Somos nobres na medida em que somos pobres.
Mais que a pobreza material, que é a vida simples e abnegada, falamos dos “pobres de espírito”. Somente os cristãos verdadeiros são capazes de superar o luxo e a vaidade e não se deixam dominar pelas futilidades. Em nossos tempos, muitos cristãos se acreditam livres porque se entregam aos vícios e aos hábitos capitalistas. Acreditam que são livres, mas dominados pelo consumismo, pela libertinagem e pela luxuria. No excesso de riqueza, tornam-se fúteis na nobreza, presas das misérias humanas.
AS BEM-AVENTURANÇAS COMO VOCAÇÃO DO ESPÍRITO
Toda bem-aventurança é uma vocação do Espírito divino. Não é pensável viver como “beatos de Deus”, sem a graça do sopro divino em nossas almas. Toda vocação nasce do Espírito que, qual chama ardente, nos aquece o coração e ilumina o espírito. Aprofundando os valores desta pregação de Jesus, percebemos que eles se referem aos dons doados pelo Espírito.
Podemos relacionar as bem-aventuranças de forma relacional com os dons. Deste modo, aproximamos “pobres de espírito” com o “temor de Deus”, os “mansos’ com o dom da piedade e os que “choram e sofrem” com o dom da ciência divina.
É simplesmente lógico aproximar a fome e sede da justiça com o dom da força, pois a luta pelos mais abandonados exige coragem e despojamento. Ninguém é misericordioso senão tiver no coração o conselho divino. Somente ouvindo a voz de Deus, podemos abrir o coração para os mais miseráveis. Pureza de coração é antes de tudo um bem da inteligência e do bom senso, assim como o dom da paz é um grande gesto de sabedoria.
Vamos viver as bem-aventuranças, que são nossas portas para o paraíso. E vamos pedir ao senhor da messe que não faltem vocações para viver e ensinar as bem-aventuranças. É o caminho do reino de Deus.
Cena do Filme “Coração Imaculado, a vida e a obra de Bárbara Maix”
Prof. João Henrique Hansen – Pe. Antônio Sagrado Bogaz
autores de Novos tempos, novos templos. Paulus:2015
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PASSO A PASSO DO CONVITE DIVINO
Celebração da Vida – Pastoral da Criança
Clube de Mães, Capela Santo Antônio