AS CORES DO ANO LITURGICO

OS TONS DA FÉ

AS CORES DO ANO LITÚRGICO


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Teologia para Catequese – Ano Litúrgico

 

Nestes tempos, vivemos a quaresma cristã, este período maravilhoso de nossa religião que vive o sofrimento de Jesus e dos irmãos.

No tempo quaresmal, o roxo está presente em todos os espaços do templo. Mesmo as decorações são feitas nesta cor e os santos são cobertos com mantos nesta coloração.

Chegamos ao tempo pascal e o branco é a cor básica, a cor da alegria e da festa, o tempo da ressurreição.

Se deparamos com o vermelho, entendemos que é a Festa do Espírito Santo ou a cor do sangue do martírio.

As cores têm significado psicológico, cultural e mesmo natural sobre os sentidos humanos e as culturas os assumem para expressar seus sentimentos e estado de espírito. Dizemos então que as cores tem significação religiosa em nossa vida litúrgica, propiciando assim um sentimento comum diante do tema do ano litúrgico. 

 

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Teologia para Catequese – Ano Litúrgico

ASPECTOS CANÔNICOS DAS CORES LITÚRGICAS

Para a celebração litúrgica, as cores são bem definidas e tem seu tempo e lugar bem determinados, tanto do ponto de vista canônico, quando cultural. Por esta razão, as cores padrões podem ter variação, conforme os lugares culturais onde se vive a fé. Esta é uma possibilidade da inculturação litúrgica que, mesmo tendo sido pouco explorada, é legítima e apreciável. 

Na Instrução geral ao Missal Romano, encontramos  as normas que regulamentam, nas condições ordinárias, as cores para os tempos litúrgicos e as celebrações específicas. O texto ensina:

as Missas rituais celebram-se com a cor própria ou branca ou festiva; as Missas para várias necessidades com a cor do dia ou do Tempo, ou então com a cor roxa, se se trata de celebrações de caráter penitencial, como por exemplo, as Missas para o tempo de guerra ou revoluções, em tempo de fome, para a remissão dos pecados; as Missas votivas celebram-se com a cor correspondente à Missa celebrada ou também com a cor própria do dia ou do Tempo.” (n. 347).

Por esta norma, o Missal Romano, nas suas orientações preliminares ensina que as cores devem seguir seu uso tradicional, ressaltando porém que as Conferências Episcopais podem propor cores diferentes, respeitando as tradições  culturais e religiosas de cada região e de cada povo. Por certo, a aprovação da variação das cores passa por um processo de reflexão e estudos bem profundos. Estas adaptações devem respeitar a índole e o caráter de cada comunidade humana, denominadas grupos étnicos.

 

AS CORES LITÚRGICAS ORDINÁRIAS 

Pesquisando a Instrução Geral do Missal, encontramos a lista das cores tradicionais e mesmo o tempo de seu uso correto. Bem conhecida é esta organização das cores, sejam branco, o vermelho, o verde, o roxo, o preto e o rosa.

Cada uma destas cores têm seu significado cultural, psicológico e espiritual; enfim, a definição de cada cor passa por estes vários aspectos.  Veremos depois as cores alternativas.

A cor branca, que representa a festa, a alegria e a solenidade é a mais valiosa dentro das celebrações anuais.  Seus dias mais importantes estão no Tempo Pascal e no Natal do Senhor.

Além disso, algumas festas também adotam branco, sobretudo as festas que são alegres, como nascimentos de santos e comemorações da Igreja. É vida, luz, inocência e pureza, mas representam sobretudo a glória divina que se celebra no ritual.

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Por sua vez, o vermelho está ligado a Pentecostes, aproximando-se do símbolo das chamas de fogo, que representam o Espírito Santo. Seu uso festivo, porém de fogo e vitalidade é assumido na Celebração de Ramos e na Paixão.

Une-se aqui o aspecto martirial dos santos, sobretudo o derramamento de sangue, daqueles que deram a vida por Jesus Cristo e pelo seus irmãos. Na nossa comunidade, Paróquia Nossa Senhora da Saúde, temos duas santas padroeiras de nossas capelas que foram mártires: Santa Luzia e Santa Maria Goretti

O vermelho faz lembrar as línguas de fogo de Pentecostes, a doação da vida, como Cristo na cruz e a entrega total a Deus. É o fogo do Espírito Santo que incendeia o coração de todos os cristãos.

O roxo, uma cor sóbria e intensa é a marcação da liturgia no período quaresmal e no Advento. Representa luto e sofrimento e por ser uma cor mais “tétrica”, nos aproxima das dores de Cristo no deserto e sua paixão. 

Por sua vez, no Advento, onde mesmo o roxo seria mais lilás, expressa a espera ansiosa do nascimento do Menino Jesus. É semelhante à quaresma, que representa a angústia de quem espera por um grande acontecimento. 

É o recolhimento que leva à penitência, que leva à purificação, preparando para um grande acontecimento. Na Quaresma,  o roxo é a esperança  da ressurreição e no Advento, a preparação para a chegada do Filho de Deus. Essas duas datas são fundamentais na vida de todo cristão.

Enquanto não se realiza o mistério da fé, vivemos a espera no silêncio e no recolhimento, meditando nesses dois grandes acontecimentos.

O verde é a cor mais usada  no Ano Litúrgico, durante todo o Tempo Comum, que são 33 ou 34 das 54 semanas anuais.

Tempo de convivência simples, de cultivo da espiritualidade e dos acontecimentos da vida pública de Jesus.  É a cor mais abrangente da natureza, das plantações, das pastagens.

É a cor da esperança, por seu aspecto repousante e suave. As cores ordinárias são aquelas que pertencem  ao cotidiano mais comum das celebrações e são complementadas pelas cores extradordinárias, seja o preto e o rosa.

 

CORES EXTRAORDINÁRIAS

Embora em desuso, o preto foi usado até o Concílio Vaticano II na Sexta Feira Santa e nas missas pelos mortos (corpo presente, sétimo dia e aniversários). Esta cor tem o símbolo de luto, que, no Ocidente, significa a tristeza da morte e a escuridão do sepulcro. Efetivamente, a cor ainda não foi abolida pelo Missal de Paulo VI. Trata-se de uma opção para a missa dos mortos, embora normalmente se use o roxo. Sobretudo no Brasil, o preto quase nunca é visto nas celebrações. Vale  a pena ressaltar que a cor preta, da qual se tinham paramentos (estolas, casula, manípulos) hoje são quase inexistentes e ainda mais, que nos países asiáticos esta cor é voltada para a festa e entre nós foi se tornando uma cor elegante e sofisticada. São as evoluções dos processos culturais, que são dinâmicos e imprevisíveis.

A cor rosa é, na verdade, uma cor litúrgica ordinária, mas seu uso é excepcional, sendo usada como uma variação amena da cor roxa, servindo para romper a austeridade do Advento e da Quaresma. É usada no Terceiro Domingo do Advento, com o nome de Gaudete (goso, safistação espiritual) e na Quaresma, como Laetere (alegria, regozijo).  Servem para romper, na austeridade do tempo, a intensidade do tempo sóbrio destes períodos litúrgicos. 

Encontramos algumas cores, com menor frequência, mas em ocasiões especiais, que merecem ser citadas e compreendidas. Falamos do dourado, que pode ser usada em todos os períodos litúrgicos, como uma cor excepcional e envolvente. Não substitui apenas o preto, mas pode estar no lugar das demais cores de todos os  tempos.

Entram aqui as cores não estipuladas pelo Missal, sendo assumidas e aprovadas como cores especiais, que precisam de aprovação das autoridades eclesiásticas para serem adotadas entre as alfaias sagradas.

Surgiram aqui as cores prateadas, douradas e bronzeadas substitundo o branco nas solenidades. Mas são assumidas como uma variação do branco, servindo de sinal de alegria.  Também o uso de casula ou estola ou toalhas multicoloridas  não pertencem ao padrão regular das cores, mas foram popularizadas com a inauguração do Ano Jubilar (ano 2000) pelo próprio Papa João Paulo II. Não se trata de legitimar esta variação policromática, mas a torna mais aceitável a imitada pelos ministros do culto.

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Um documento importante da Igreja procura limitar e dar critérios para estas variação, como lemos neste documento sobre a vida liturgica:

“Esta faculdade, que também se aplica adequadamente aos ornamentos fabricados há muitos anos, a fim de conservar o patrimônio da Igreja, é impróprio estendê-las às inovações, para que assim não se percam os costumes transmitidos e o sentido de que estas normas da tradição não sofram menosprezo, pelo uso de formas e cores de acordo com a inclinação de cada um. Quando seja um dia festivo, os ornamentos sagrados de cor dourado ou prateado podem substituir os de outras cores, exceto os de cor preta.” Redemptionis Sacramentum, n. 7.

Quanto ao azul, uma cor celestial repousante e tida como muito mística, é aceito, extra-oficialmente nas celebrações das Festas e Solenidades da Santíssima Virgem Maria.  Por seu aspecto devocional, algumas dioceses obtiveram aprovação para o uso desta cor, nas celebrações de Maria, sejam festas, solenidades ou mesmo memória aos sábados. Em tantos lugares, porém é usada, sem contestação da hierarquia, mesmo não tendo obtido a aprovação oficial. Uma liberdade de culto, apreciada e bem acolhida. Foi aprovado por via consuetudinária, quer dizer, pelo uso comum e pela aceitação de todos envolvidos, povo, autoridades e clero. 

 

VALIDADE DAS CORES 

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Pe. Antônio Sagrado Bogaz – Pároco

As cores são importantes e nos ajudam a viver bem o espírito litúrgico. Devem ser assimiladas e vividas para servir o culto e elevar o espírito humano. Este é seu significado fundamental e não deve servir para outros fins, sejam ideológicos ou alheios à liturgia. Que o uso das cores possa servir para vivermos mais intensamente e mais corretamente os vários períodos do Ano Litúrgico. As cores, afinal, mesmo que sejam um elemento externo ao culto, servem simbolicamente para enriquecer, embelezar e elevar o espírito humano no seu encontro com Deus, na alegria, na dor, na esperança, no sofrimento, na vitória e nas atividades cotidianas. 

 

PE CIDINHO
Pe. Aparecido do Nascimento – Vigário
 
 
 
 
Prof. João H. Hansen – Pe. Rodinei Thomazella – Pe. Antônio S. Bogaz
da família de São Luís Orione

  ilustração: Fotos da Paróquia N.Sra.Saúde 

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