A SABEDORIA NAS ESCRITURAS SAGRADAS

Muitas vezes, encontramos pessoas que desconhecem totalmente a Bíblia. Mais triste: são cristãos e mesmo católicos. Torna-se necessário introduzi-las neste mundo maravilhoso de Deus. O Criador não escreveu fisicamente os livros bíblicos, estes têm autores que foram inspirados pelo Senhor, para que mostrassem aos homens os caminhos para se chegar a Ele. É um convite com seu itinerário.
Este livro maravilhoso divide-se em dois grandes tomos, como sabemos: O primeiro volume, que chamamos de Antigo Testamento, e o segundo, que é o Novo Testamento. Até a chegada de Jesus, falamos do Antigo Testamento. Nele, consta as histórias do povo judaico, as profecias, os salmos, a presença de Moisés no ensinamento do povo e como a cultura, a religião e a vida eram antes de Jesus ser enviado por Deus Pai ao mundo. Após a preparação para a vinda do Messias, temos em Jesus Cristo, através de seus apóstolos e discípulos, a evangelização, por meio de relatos, eventos e as cartas dos apóstolos. Encontramos tudo o que compreende a nossa história e nossa fé cristã. São lições e ensinamentos para uma nova história da humanidade.
Somos todos vocacionados para uma nova vida. Dentre tantas narrações, o que fica bem claro para o cristão, é que nas celebrações temos tudo isso, que chamamos de Palavra de Deus. Exatamente neste universo de palavras sagradas e histórias edificantes que encontramos forças para nossa sobrevivência, pois tudo nos leva ao amor de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Eis a Trindade e que está conosco desde a criação do mundo.
SABEDORIA DIVINA: VOCAÇÃO DE TODO HOMEM
Dentre tantos livros, este ano, nossos pastores nos propõe um mergulho nos capítulos de um livro que nos ilumina a estrada cotidiana e nos convida para seguir nos caminhos de Deus. Esta é a vocação dos sacerdotes, religiosas e todos fiéis. Entre outros livros sapienciais, um dos livros que compõe o Antigo Testamento é o Livro da Sabedoria. Ele é popularmente conhecido como o Livro da Sabedoria de Salomão. É um dos maiores livros sapienciais da Bíblia, pois possui 19 capítulos. Esta é uma classificação para estes livros que nos ensinam como viver como bons pais, bons filhos, bons fiéis, na família, na igreja e na sociedade. Numa tradição popular, é comum pensar que foi escrito por Salomão. Com certeza, e seus capítulos compõe uma coletânea de ensinamentos compilados pelo grande rei da sabedoria judaica. No entanto, alguns estudos apontam que, talvez, tenha sido escrito por um judeu que morava na Alexandria e que escreveu no século anterior a Jesus Cristo, portanto não poderia ser escrito por Salomão. São especulações dos estudiosos, apenas para ver a cientificidade do livro; pois seu valor vai para além destas discussões.

ORIGEM DO LIVRO DA SABEDORIA

É interessante saber que a Alexandria, A GRANDE CIDADE DOS SÁBIOS, era um local de cultura grega, onde moravam mais de 200.000 judeus, chamados judeus da diáspora. Estes estudiosos judeus acabavam abarcando suas filosofias, costumes e até cultos religiosos. Houve grande enculturação dos judeus naquele período e naquela grande cidade, uma das cidades mais importantes da antiguidade. Ao mesmo tempo, havia muita perseguição aos judeus e para sobreviverem sem nenhuma perturbação política, acabavam assimilando os costumes. Infelizmente, como consequência, acabavam perdendo até a própria maneira de ser e sua crença, para poder viver tranquilo dentro de uma sociedade idólatra. No entanto, os sacerdotes e muitos fiéis mantiveram sua identidade cultural e religiosa.
Certamente coletando a herança literária do Rei Salomão, este judeu fiel, que era um estudioso profundo das Escrituras judaicas e históricas do seu povo, organizou e redigiu de forma sistemática um belíssimo livro que tem o direcionamento da fé religiosa de seu coração e assim ativar a esperança de seu povo, no meio de perseguições dos inimigos e seduções de outras culturas e religiões.
SABEDORIA: FAZER O BEM PARA SER FELIZ
Este é um livro-convite: o convite para a felicidade. Todo ser humano é convidado por Deus para ser feliz. Ser feliz é a vocação de toda pessoa, portanto, devemos procurar e seguir o caminho da felicidade. Para ser muito próspero e feliz, o Livro da Sabedoria ensina que o homem necessita ter uma vida justa e uma felicidade plena. A sabedoria, portanto, vem de Deus, que se opõe à idolatria e a vida sem nexo e sem valor que nasce dela.
Ninguém é feliz longe de Deus. Ser de Deus é ser do bem, fazer o bem e evitar o mal. Como ensinava o Santo Luís Orione: Para ser feliz é preciso fazer o bem sempre, o bem a todos e o mal nunca e a ninguém. Não se pode esquecer que a sabedoria divina foi que direcionou a história do povo hebreu. Sem sobra de dúvidas, para haver felicidade e realização da vida, é necessário ser amigo de Deus, que inspira o homem para escrever suas Palavras.
Amigo de Deus é a vocação de todos nós; é um convite divino. Pelos ensinamentos dos capítulos deste livro, como dos outros livros sapienciais, que são um bloco dos livros da Bíblia, o autor sagrado orienta os ensinamentos a dois diferentes interlocutores.
Em primeiro lugar, os textos são dirigidos aos judeus que vivem na Alexandria, longe de sua terra natal, a Palestina. Estes direta ou indiretamente sofriam a perseguição do paganismo e devem ser perseverantes e não negar a sua fé em Javé. Em segundo lugar, os ensinamentos são dirigidos aos próprios pagãos, principalmente aos intelectuais helenistas tentando convertê-los ao Deus verdadeiro. São sábios que buscam a verdade e estas verdades estão inscritas nos versículos maravilhosos deste livro tão sábio.
A BELEZA DOS SÁBIOS SAGRADOS
Para entender melhor sua composição e sua estrutura, os estudiosos organizam o livro de forma bem didática, para que os leitores de todos os tempos possam entender melhor e viver melhor seus ensinamentos. Assim, normalmente o Livro da Sabedoria é sempre dividido em duas partes, bem distintas e importantes. Nestas duas partes, entendemos bem e melhor o que o autor nos transmite. Na primeira, que são os nove primeiros capítulos, encontramos a descrição da sabedoria num aspecto mais especulativo e filosófico. Nos últimos dez capítulos, uma vez que o livro é composto por dezenove capítulos, o autor trata da parte histórica, onde a sabedoria se revela nos fatos. Aliás, na Bíblia, a sabedoria não é feita de conceitos e definições, mas se revela nos acontecimentos e nas atitudes dos seus personagens.
Parte histórica: Nesta parte histórica ele se dirige aos reis e incentiva-os a procurarem a Sabedoria. Os governantes acreditam em Deus e querem fazer um governo que deixe marcas na posteridade. Não querem ser inscritos na história como reis malditos e corruptos.

A sabedoria é necessária para governar; os soberanos precisam tê-la mais do que o povo em geral, pois têm uma missão muito especial, para o bem comum. Somente desta maneira, os reis poderão governar com decência e sapiência. Não devem ser egoístas, vaidosos e mentirosos. Somente a sabedoria divina garante a honestidade e o amor ao povo. O amor ao povo é consequência do amor a Deus. Para tanto, ele fala de suas experiências nesta busca, onde diz que o verdadeiro esplendor de Deus é conceder a sabedoria a todos que são sinceros e precisam ser justos com seu povo. O livro fala ainda que os anciãos são guiados pela Sabedoria. Diz isso, pois os anciãos sempre foram considerados sábios pela vida que tiveram e que puderam ensinar aqueles que não tinham experiência. Neste livro, compreende-se o ancião como modelo de sabedoria e verdadeiro sinal da graça divina.
O autor elogia a sabedoria de Deus Pai e suas relações com os patriarcas desde Adão a Moisés. Também fala da misericórdia de Deus com os povos idólatras, como o Egito e Canaã. Também cita a proteção de Deus ao povo de Israel quando foi protegido durante as pragas e na grande travessia do Mar Vermelho, liderados por Moisés. A sabedoria é a luz de Deus a guiar o povo através de seus patriarcas. Nos ensinamentos filosóficos, notamos como se trata de ensinamentos doutrinários do Livro da Sabedoria, são inspirados do Antigo Testamento, pois a obra fala de Deus, do Deus do universo e Senhor dos hebreus.

Ele é o Senhor absoluto do mundo. Notamos que sendo uma obra de um judeu, conserva todos os direcionamentos para Deus, mas atrela ao texto expressões platônicas que vez ou outra mostra o conhecimento escrito por alguém que conhece dos dois sentidos, o helênico e o hebreu. A fé vem do povo hebreu, mas a linguagem e a cosmovisão vem dos grandes filósofos que influenciam aquela religião e aquele período histórico. O tema central da obra é a “Sabedoria” que desponta no livro através de duas visões.
A primeira é da sua relação com o ser humano, como em outras obras sapienciais, através de pessoas virtuosas, o homem em si, sendo um dom outorgado por Deus. O homem portanto vai sempre triunfar sobre o mal, tendo Deus para orientá-lo nesta empreitada. A segunda visão mostra que o amor a Deus, que é a fonte da sabedoria é a vocação de todo ser humano. Nossa vocação é o amor a Deus e o amor aos irmãos, que são intimamente unidos. Assim que este livro nos ensina a viver bem com todos os irmãos.
CAMINHOS DA SABEDORIA
Numa das páginas mais brilhantes do texto, o autor deste livro, recuperando as tradições orais do povo, apresenta caminhos da sabedoria e como toda criatura humana é convidada a viver e partilhar. Assim que o elogio à sabedoria é um ponto alto desta obra magnífica. Podemos ver alguns textos:
“O espírito da sabedoria é inteligente e santo; é único, mas manifesta-se de muitas maneiras. Não é feito de matéria e movimenta-se livremente. Penetra tudo, não tem nenhum defeito e pensa com clareza; não faz mal a ninguém” (Sab 7, 22)
Para o autor, todo fiel é convidado a mergulhar no universo da sabedoria divina, que é livre e sempre faz o bem. Somente é divina e verdadeira a sabedoria que fizer o bem, que não provoca inimigos, mas produz a verdade e o bem comum. A sabedoria nos faz felizes e nos faz arautos da felicidade dos irmãos. De verdade, a sabedoria é o reflexo da bondade de Deus e nos leva à sua glória.

Num momento mais elevado, o autor nos ensina que “ Deus ama somente as pessoas que vivem com a sabedoria, pois Ela é mais bonita do que o Sol e mais linda do que todas as estrelas. (Sab 7, 28) É um grande elogio à sabedoria que é o destino de todo ser humano. O autor segue ainda: “ Comparada com ela, a luz do Sol fica a perder, pois essa luz desaparece quando a noite chega. O mal não pode derrotar a sabedoria.(v. 31)
Vemos através deste belíssimo texto, na sua forma poética, o elogio da Sabedoria, a magia que vem de Deus para todos os homens que buscam a sabedoria e não é materialista. O autor compara nestes versos a Sabedoria com o Sol, a Luz, o sopro do poder de Deus, a bondade do Senhor, o brilho da luz eterna e tantas outras belíssimas metáforas e simbologias.
SABEDORIA DE UM GRANDE REI

Todos conhecemos bem a famosa cena do Rei Salomão. Uma vez, diante dele chegam duas mulheres brigando por causa de uma criança. As duas se diziam mãe da criancinha. Disputam gravemente a criança. Salomão pega uma espada e pede a dois guardas que segurem a criança. Diz para as mães que uma vez que estão brigando ele vai cortá-las ao meio e dar metade para cada uma. Afinal as duas se diziam mães da criança. Simulando que vai fazer mesmo, quando uma das mulheres grita impedindo que Salomão parta a criança ao meio. Diz que é melhor entregar para a outra mulher a criança e não matá-la. Ela ama a criança e a quer viva e não dividida. Salomão olha para ela e entrega a criança.
Maravilhosa história que mostra a sabedoria do grande rei. Afinal, ele percebeu que somente uma verdadeira mãe, diria depois, faria este sacrifício de doar a filha se não fosse a verdadeira mãe, querendo que a criança vivesse.
Isso dá um sentido muito interessante de entender o que é a sabedoria. Por isso, foi o que Salomão pediu a Deus e Ele o atendeu. Não pediu riquezas, ou seja, nada material.
Pediu sabedoria para lidar com seu reino. Diferente do mundo atual onde os políticos preferem riquezas que solicitam do mal e não sabedoria para conduzir seu povo. Não são sábios, são gananciosos. Preferem perder a felicidade e a dignidade que marcar sua vida pelo testemunho de uma vida exemplar. Ainda, algumas gotas de sabedoria:
“ Tem o brilho da luz eterna: é um espelho sem mancha do poder ativo de Deus, é uma imagem da sua bondade. (Sab 7, 26)
Entendemos a grandeza da sabedoria, ela é o próprio Deus que nos reveste de inteligência, coragem, força e tudo o que possa ser uma luz eterna, porque Deus é toda a bondade. O Espírito Santo faz parte deste caminho, ele é a própria sabedoria que na Trindade se expande.
VOCAÇÃO HUMANA: A SABEDORIA DIVINA
Nos encantamos com o Livro da Sabedoria, pois em cada passagem nos sentimos atraídos em pedir a Deus que nos dê sabedoria. Dizem que a idade do homem pode trazê-la, mas na realidade ela deve ser cultivada a vida inteira, a família deve estar atenta para que os valores espirituais seja maiores do que os materiais. A sabedoria está em encontrar Deus em todos os momentos, pois ele é o próprio Espírito da Luz. Podemos apreciar melhor o texto literal, vocação do ser humano à santidade e à felicidade:
“Ela é mais bonita do que o Sol, mais linda do que todas as estrelas. Comparada com ela, a luz do Sol fica a perder. Pois essa luz desaparece quando a noite chega, mas o mal não pode derrotar a sabedoria.” (Sab 7, 30)
Concluindo, a sabedoria é tão bela, que qualquer ponto que nos encontramos no universo, como o Sol, ela é ainda mais bonita do que todas as estrelas juntas, todo o Universo que Deus criou, porque não aproveitaríamos nada, se Deus não nos desse a sabedoria para entender tanta beleza que vem ao coração dos homens, Mesmo quando em graves momentos a luz desaparecer e tornar a terra escura, certamente o mal não poderá derrotar a Sabedoria. Deus não permite e assim, como a aurora da vida todo dia retorna, a Sabedoria jamais se afasta, nem mesmo durante as tempestades, porque Deus presente impede que o homem sofra, se ele usar sua sabedoria para o bem.
Prof. João H. Hansen – Pe. Antônio Sagrado Bogaz
Da família de São Luís Orione
Autores de “A alma encantada de São Luís Orione – La Fonte: 2018


OS MESES TEMÁTICOS
Durante o ano litúrgico, especialmente no tempo comum, a igreja no Brasil foi criando alguns meses temáticos, a partir das necessidades de evangelização e catequese do povo cristão. Os meses temáticos têm sido preparados com muito cuidado, e se pode perceber sua importância e seus limites no desenvolvimento da liturgia. Estes temas se fazem particularmente presentes nas celebrações eucarísticas (dinâmicas, símbolos, cantos, leituras e outros), embora sejam vividos também nos grupos de reflexão, na catequese, nos grupos juvenis e em todas as pastorais.