VIA SACRA CAMINHO SAGRADO DA SOLIDARIEDADE

VIA SACRA 

CAMINHO SAGRADO DA SOLIDARIEDADE 

 

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A riqueza espiritual do tempo quaresmal é impressionante. Entre todos os ciclos e tempos do Ano Litúrgico, este período, vestido de jejum e penitência, revela os mais altos sentimentos da piedade cristã.

Estes sentimentos, que são vividos com muita devoção pelos fiéis nas igrejas do mundo inteiro, expressam o desejo intenso de transformar o coração e renovar a vida. Esta espiritualidade se expressa nas leituras destes períodos, nas tradições cultivadas pelos séculos e marcadamente nos símbolos que explicitam esta mística quaresmal. 

Os símbolos são muito importantes, pois eles atravessam a existência humana. De fato, quando silenciamos, os símbolos clamam e quando não temos palavras suficientes os símbolos falam e expressam nossos pensamentos. Podemos crer que mesmo os sentimentos mais elevados, se faz compreender  pelos símbolos. Assim é na espiritualidade cristã, que nos rituais se serve de símbolos para manifestar seus mistérios.  De modo especial, os símbolos mais sagrados expressam os mistérios mais profundos de nossas crenças mais elevadas.  

Por uma razão antropológica e afetiva, os rituais litúrgicos são carregados de simbologias. São palavras, gestos, sons, movimentos que acompanham as palavras de nossas doutrinas e nossas orações. 

De fato, todos os símbolos são  significantes das celebrações. Eles são instrumentos de comunicação dos rituais litúrgicos. Por eles, penetramos a força dos mistérios que celebramos na Quaresma. Os símbolos pertencem ao patrimônio do conhecimento e da sabedoria das comunidades. Reconhecer os símbolos da quaresma é o caminho para entendermos melhor sua espiritualidade e viver melhor a mística do tempo especial do Ano Litúrgico. Entre tantos símbolos, a via sacra é uma das ações litúrgicas e devocionais mais frequentes e mais populares deste período. Procuramos entender sua tradição e seu significado e, mais que tudo, reconhecer a mensagem especial, que nos comunica cada um de seus protagonistas, que desfilam em suas estações.  

 

ÚLTIMOS PASSOS DE CRISTO 

Via Sacra ou ainda “via crucis” (caminho da cruz) descreve o roteiro ou a estrada que Jesus percorreu, após sua condenação sumária por Pôncio Pilatos, sob os gritos da multidão seduzida e corrompida pelos sacerdotes do templo. De fato, a gritaria da multidão diante do Palácio do Governador soa muito estranha, pois este mesmo povo acolhera Jesus e seu burrinho na entrada da cidade alguns dias antes. Mas esta mudança de comportamento é compreensível considerando que as moedas dos chefes dos sacerdotes as corromperam para instigar as autoridades legítimas a dar a sentença de condenação. 

O itinerário é traçado historicamente, marcando seu início no Pretório, centro da cidade antiga de Jerusalém, e segue até o conhecido Monte Gólgota, onde se deu a crucifixão. No ponto de partida se encontravam os edifícios da administração romana na Judéia e percorre as ruas tortuosas e apertadas da cidade antiga, com seus muros e escadarias centenárias. Se este foi o trajeto original, a celebração da Via Sacra tende a refazer este mesmo traçado, revivendo suas cenas e encontros mais importantes.  

Pelos acontecimentos, destacamos os principais personagens, os quais nos ensinam como proceder diante dos acontecimentos, podendo ser nossas atitudes verdadeiramente cristãs ou simplesmente omissas diante do sofrimento dos irmãos. Em verdade, o grande objetivo da celebração da Via Sacra e meditar as agruras do próprio Cristo e aproximarmo-nos dos sofrimentos dos irmãos que sofrem em nossa realidade atual. As atitudes dos protagonistas são modelares para nossas atitudes, pois as histórias dos dramas humanos são recorrentes em nossas vidas.  

 

 
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VIA SACRA, NA BÍBLIA E NA HISTÓRIA 

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Os acontecimentos celebrados na Via Sacra são extraídos dos capítulos finais dos evangelhos. Neles encontramos os fatos que marcaram esta caminhada, como são transcritos pelos evangelistas.  As descrições seguem este itinerário, conforme comprovamos pelos próprios historiadores. São incluídos numa sequência de 14, como um número simbólico, mesmo que não seja comum nos textos bíblicos. Porém foram sempre configurados como 14 estações: 

 

  1. Agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras; 
  2.  Traição de Judas e a prisão de Jesus; 
  3.  Condenação de Jesus; 
  4. Negação de Pedro por três vezes;  
  5. Jesus no palácio de Pilatos; 
  6. Flagelação e a coroação de espinhos; 
  7. Jesus carrega a pesada Cruz; 
  8. Jesus é auxiliado por Simão Cirineu;  
  9. Encontro com as mulheres de Jerusalém;  
  10. Crucifixão de Jesus Cristo;  
  11. Diálogo de Jesus e o Bom Ladrão;  
  12. Maria e João aos pés da Cruz;  
  13. Jesus Cristo morre na Cruz;  
  14. Deposição de Jesus no sepulcro. 

De forma indireta e ainda espontânea, encontramos as narrativas dos cristãos que visitam a região da Judéia onde viveu Jesus e especialmente onde passou seus derradeiros dias. Os cristãos visitavam estes lugares para fortalecer sua fé e identificar-se com os acontecimentos da vida de seu Senhor.  No século IV, o testemunho importante de uma peregrina, Egéria, mostra que este caminho tinha se tornado um ritual formal e oficial, percorrido pelos bispos, sacerdotes e toda multidão de fiéis. 

A popularização da Via Sacra se deu em Jerusalém por ocasião das cruzadas. Os cristãos que partiam para visitar os lugares santos, visitavam e reviviam os acontecimentos da vida de Jesus. Quando voltavam para suas terras de origem, procuravam reviver aqueles fatos, proclamando as leituras e encenando as passagens bíblicas. Quando o ritual tornava-se popular e muito participado, as comunidades demarcavam os lugares nas estradas com cruzes e imagens dos personagens de cada estação. Assim, foi se formando a tradição, definida em pinturas e esculturas representativas. Durante os séculos da Idade Média ainda encontramos diversas variações dos temas das estações, sendo que no século XVI encontramos a enumeração atual e dos conteúdos da Via Sacra e seus personagens principais. 

As narrativas bíblica ou apócrifa dos episódios eram carregadas de poesia e dramaticidade e mais tarde passaram a ser representadas nas Igrejas e serviam para a catequese e para alimentar a espiritualidade quaresmal. Estas histórias lindas fortaleciam o sentimento de culpa e de regeneração dos pecados, como objetivo das semanas quaresmais.  

 A liturgia que herdamos dos colonizadores, trazidas da Espanha e de Portugal, incutiam o sentimento de cor e compaixão pelos principais personagens da história, sobretudo o Senhor Crucificado e Nossa Senhora das Dores. Dá-se uma aproximação entre as quedas de Jesus e as dores de Maria; é a aproximação do filho que sofre e a mãe que se compadece. Ambos compadecem os fieis.

 

PERSONAGENS SOLIDÁRIOS 

Existe uma grande identificação dos homens e mulheres que se encontraram com Jesus nesta via dolorosa. Servem de paradigma para nossas virtudes cristãs e nossos valores humanos.

Todos eles participam desta aventura mística e ficaram registrados nos textos bíblicos e na piedade popular. Alguns são apresentados pelos próprios evangelistas e outros foram colhidos dos escritos piedosos antigos,  denominados evangelhos apócrifos. Por certo, as duas figuras mais elevadas deste itinerário são Jesus e sua mãe, Maria. Jesus é o coração desta história, destacando-se desde sua preparação espiritual no Horto das Oliveiras, quando previa profeticamente seu destino (Mt 26, 36).

Sua acolhida ao plano de salvação da humanidade, como Filho de Deus, o coloca no caminho do martírio que se inicia nas horas de oração de toda uma noite de preces, suor e sangue. Sua dor é o início de seu martírio e o sangue misturado ao suor é o selo de um pacto que se finaliza na cruz e se engrandece na ressurreição.  

 

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MARIA, NO CORAÇÃO DA VIA SACRA 

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Jesus segue seu calvário e podemos imaginar sua mãe nas proximidades, vivendo com seu filho e partilhando sua agonia. Certamente seus olhares furtivos, como são representados na literatura e nos escritos religiosos, é a cumplicidade que nasceu no ventre, desde o anúncio do Anjo.  

Maria está, por certo, observando a grande multidão que clama pela condenação de seu Filho (Mt 15, 13 – 14), está presente quando lhe coroam de espinhos e vai ao seu encontro. Maria é a mulher corajosa que abre caminho entre a multidão e vai abraçar seu Filho. Esta é uma das cenas mais dramáticas deste itinerário, que comove os transeuntes e manifesta a coragem de uma mãe diante dos algozes. Maria segue seus passos, testemunha suas quedas e não desgruda de seu “menino” até os pés da cruz. Quando a noite vem, depois da tempestade e dos últimos clamores, Ela ainda está ao lado de seu Filho. Ela o acolhe na cruz e o entrega para o sepulcro. Este é o caminho corajoso de uma mãe, que manifesta e unifica em sua alma todas as dores do mundo.  E juntamente com as dores, a solidariedade e a força da vitória. Maria é a mãe universal e a representação da Igreja que está ao lado de tantos que sofrem e são crucificados pela fome, pelo preconceito e pela corrupção do mundo dos poderosos. 

 

PROTAGONISTAS DO  BEM 

Os textos bíblicos apresentam uma lista maravilhosa de personagens que serviram o Cristo nos momentos mais dolorosos de sua agonia, naquele longo caminho entre o Palácio e o Calvário. Neste caminho encontramos presenças marcantes, descritas pelos evangelistas e que são cultuados até nossos dias.  

O lenço abençoado da Verônica 

Vamos recordar de Verônica, a mulher que apresenta o véu com o rosto de Jesus impresso nele, com marcas vermelhas de sangue. A “mulher do véu”, que representa todos os cristãos que se ajoelham diante dos feridos e enxugam suas lágrimas e afagam suas feridas, é a simbologia de todos os bons samaritanos que oferecem seus préstimos para acalentar as dores dos irmãos.

Conhecemos voluntários nas guerras, que fazem curativos nos feridos, jovens que vão às praças lavar os pés e o rosto dos moradores de rua e religiosos que cuidam dos mais fracos da sociedade, sobretudo idosos e crianças. Podemos destacar tantas “verônicas” das pastorais (marianos, da criança, vicentinos, dos idosos) que deixam seus afazeres para banhar os enfermos, limpar suas casas e trocar seus curativos.

O véu continua sendo o instrumento da caridade de tantos bons cristãos em nossos dias.  

 

 

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Os ombros abençoados do Cirineu 

Como não notar a presença, quase despercebida, do homem de Cirene. Um desconhecido que socorre um indigente.

Mesmo contrariado, por descarrilhar de sua estrada, alheio aos acontecimentos da grande cidade, ofereceu seus ombros para carregar a cruz da salvação e assim participar da salvação da humanidade (Mc 15, 20-21). 

Quando o Homem de Cirene é obrigado a carregar a cruz do “condenado do ano”, festejado pela multidão inconsciente, não sabia que estava participando de um projeto divino para salvar a humanidade. Com certeza, ele teve medo; no entanto praticou grande gesto de solidariedade para com o Filho de Deus.     

Anotamos que Cirene era uma cidade na África do Norte, muito distante de Jerusalém (1.600 km), na atual Etiópia. Denominado como o Negro (shuaz) tinha vindo a Jerusalém para celebrar a Páscoa. 

 

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O socorro do homem de Arimatéia 

Jesus na cruz é um grande espetáculo de horror, que assusta os transeuntes. Não é uma imagem romântica, mas altamente dramática, pois ver um homem sangrando, ferido e sem roupas é certamente chocante. Mas Jesus vive este instante com a mesma coragem de profeta e mártir, mesmo que seus amigos e familiares estivessem participando da humilhação. Um corpo crucificado poderia ficar longas horas e mesmo dias suspenso na cruz, sendo atacado por aves de rapina e por animais selvagens. Surge então José de Arimatéia.  

A cidade de Arimatéia é um povoado de Judá (atual Rentis) onde nasceu Samuel (1Sam 1, 1). Ele era o proprietário de um sepulcro novo, cavado na rocha, bem pertinho do Gólgota. Assim como Nicodemos era, em sigilo, um discípulo de Jesus, pois tinha medo das autoridades judaicas (Jo 15, 38). Contam os livros apócrifos (Evangelho de Nicodemos) que José de Arimatéia foi enviado para a prisão pelos romanos, incitados pelas autoridades judaicas. 

 

 

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A humildade de Nicodemos 

Nicodemos, (Jo 3, 1-8) era um príncipe dos Judeus, um chefe da sinagoga e membro do Sinédrio, que era um conselho administrativo do templo. Era o conselho governante judaico, inclusive era aceito pelo governo romano. Nicodemos conhecia Jesus, pois foi falar com ele uma noite, escondido dos sacerdotes judaicos, como lemos: “Nicodemos, que tinha estado com ele antes, e que era um deles, disse -lhes:” Será que a nossa Torá pode julgar um homem, sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que faz ? “Eles responderam: você é da Galileia também? 

Foi este bom homem que praticou uma grande obra de misericórdia para com a família e os amigos de Jesus, levando seu corpo para o sepulcro. Segundo a tradição, Nicodemos trouxe mirra e aloés. O corpo do Senhor foi levado e sepultado conforme o costume dos próprios judeus. Este “conquistador do povo” foi importante e representa o grupo dos amigos do Senhor, que vence seus preconceitos e entra para nossa história como um grande discípulo do Senhor.   

 

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 ALGOZES DA VIA SACRA 

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Se por um lado, refletimos a via sacra percorrendo as ações dos grandes servidores da causa do Reino de Deus, temos ao contrário os personagens que mancharam seus nomes e passaram para a história como malfeitores da humanidade. Nem falamos de Barrabás, criminoso e cruel que foi libertado. No entanto, refletimos nesta situação, considerando que muitas vezes criminosos cruéis, que pagam bons advogados e têm poder político e econômico, ficam impunes, enquando inocentes ou praticantes de pequenos delitos são encarcerados por longos anos e sem nenhuma defesa. A aplicação da lei que esnoba a justiça e manipula os poderes judiciários é uma grande fonte de injustiças em nossa sociedade. A figura de Pilatos e Herodes, como manipuladores do poder político, que se valem de suas posições para enriquecimento ilícito e manipulação das grandes multidões, é um retrato da organização dos poderes executivo, legislativo de nossos tempos.  De igual forma, no universo religioso, os sacerdotes templários representam a dominação religiosa, na qual os bens espirituais são manipulados para enganar os fiéis e alienar o povo simples. Como em nossos dias, religiões sem escrúpulos usam o nome de Deus e de Jesus para ludibriar os menos avisados, com promessas estapafúrdias de milagres, curas e enriquecimento mágico.  Os soldados prestam um serviço, são usados pelos senhores do poder para executar suas sentenças abomináveis. 

 

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A VIA SACRA CONTINUA… 

Na liturgia barroca, que herdamos com a catequese dos colonizadores, a espiritualidade quaresmal era fortemente penitencial e com dimensões dolorosas. As vias-sacras eram carregadas de teor lacrimejante e de lamentações, voltado sobretudo para as dores de Jesus, de Maria e de seus amigos, contrastando com a maldade dos algozes. A Via Sacra, celebrada ardorosamente nos quarenta dias da Quaresma, culminava com as celebrações dramáticas da Semana Santa, com seu “sermão das Sete Palavras”, sepultamento de Jesus, procissão do Encontro e tantos rituais litúrgicos dolorosos. Todas as imagens, cantos, homilias manifestavam a dramaticidade do destino trágico de Jesus Cristo. 

Nas últimas décadas, movida pela evolução da teologia e da espiritualidade cristã, a Via Sacra incorporou elementos da realidade, aproximando o sofrimento de Jesus Cristo com os sofrimentos dos povos, sejam crianças, idosos, indígenas, negros, enfermos, entre tantos. A Via Sacra, como caminho da dor de Cristo, tornou-se analogia para refletir sobre a realidade dos grupos sociais maltratados de nosso tempo. 

Para além destas questões mais teológicas, este ritual riquíssimo de nossa devoção popular, é um instrumento litúrgico que serve à espiritualidade quaresmal, pois conduz os fiéis e as comunidades ao caminho do recolhimento na fé, arrependimento dos pecados e conversão para o Reino de Deus. Seguir o caminho de Cristo até sua vitória, passa pelo caminho da cruz. A cruz continua sendo elevada e muitos irmãos ainda são cruelmente crucificados. Celebrando nos irmãos as agonias de Jesus, celebraremos em Jesus a nossa ressurreição, que é o destino definitivo da Quaresma.  

Viver a quaresma é uma graça que a Igreja nos oferece, levando-nos a redescobrir as motivações dos primeiros cristãos, que se preparavam com tanto ardor para as festas pascais. Todo tempo é tempo de purificação, todos os dias são dias de renovação; isso é inegável. Nossa Igreja nos apresenta um tempo especial, para reacendermos a chama da fé que se fragiliza nas labutas cotidianas, para refazermos os laços de afetividade que se desmancharam e caminharmos nos passos da caridade, que nos unificam com Deus e com os seus empobrecidos. Na condição humana de pecadores, somos iluminados por Jesus Cristo, para reavermos a condição divina semeada em nossa vida pela filiação batismal. Pelas cinzas, pelas palmas, pela cruz e por tantos gestos, somos adentrados num espírito novo, capaz de restaurar a grandeza de nossos corações. A medição da Igreja, nossa comunidade de fé, escancara nosso coração para acolher, feito sepulcro sagrado, o Cristo crucificado e se tornar o templo que adora o Cristo ressuscitado. Quaresma é graça divina que nos eleva, dia após dia, passando pelo calvário, à manhã da glória da ressurreição.  

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Pe. Antônio S. Bogaz – Prof. João Henrique Hansen
Autores de A PRAÇA DA DÁVIDA. Lafonte: 2017
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 TIPOLOGIAS DA CRUZ 
Mesmo contando com uma infinidade de representações do símbolo da cruz, destacamos algumas que parecem mais próximas à nossa cultura ocidental e cristã. Como a CRUZ é um símbolo significativo da tradição cristã, seus traços, com algumas variações servirá de adorno e de efígie de muitos grupos nitidamente cristãos ou católicos durante estes séculos da cultura ocidental, basicamente cristianizada.
Nem sempre a representação da cruz está inserida num propósito de humildade e de fé cristãs. Muitas vezes, tornou-se a expressão de um poder ocidental e de dominação dos povos. Mas foi sempre uma representação de um poder espiritual, somado com o poder temporal.  
Cruz Latina – é o modelo mais comum de cruz cristã, pois representa o sacrifício redentor do Cristo. Foi o modelo que se perpetuou em nossas práticas litúrgicas e em nossa iconografia cristã.  
Cruz Copta – recebe o título de um antigo povo cristão. Tem no centro um círculo de onde emana quatro braços iguais. No canto tem a letra T, recordando os pregões da cruz de Jesus. 
Cruz Grega – é um modelo muito conhecido no Oriente. Representa-se por 4 hastes de tamanho igual e é usada nas liturgias de algumas Igrejas Ortodoxas. 
Cruz Gamada – um modelo de Cruz em movimento, como se houvesse curvas de 90 graus. Recebe o título de suástica e é muito antigo. Por seu uso pelo Movimento Nazista Alemão tornou-se objeto de maldição na cultura popular.  
Cruz Papal – usada nas celebrações oficiais da Igreja, sobretudo nos rituais pontificais. Conhecida como cruz tripla, pois tem três barras horizontais, que representam as funções do Papa: Bispo de Roma, Patriarca do Ocidente e Sucessor da Cátedra de Pedro. 
Cruz Patriarcal – possui um “braço menor”, o qual representa a inscrição colocada na Cruz de Jesus (INRI). Outrora era usada pelos bispos e príncipes da Igreja cristã antiga. 
Cruz Vermelha – Pela aproximação com a vida cristã, este modelo, sobretudo a cor, se refere ao serviço de socorro e atendimento dos médicos e enfermeiros em momentos trágicos da sociedade, particularmente catástrofes e guerras.  
Cruz de Santo André – recebe este título em atenção a Santo André, que segundo a tradição foi crucificado numa cruz em forma de X. Foi o modelo da sua cruz de suplício. 
Cruz de São Pedro – este modelo tem o eixo horizontal na parte inferior da haste vertical. Pedro, no momento de ser crucificado disse, conforme narra a tradição, que não era digno de ser crucificado como seu Senhor. Ao que, seus algozes, ironicamente,  inverteram a posição da cruz e o crucificaram de cabeça para baixo. 
Cruz de Santo Antônio ou São Francisco – é uma cruz em forma da letra “tau”, Equivale a letra T e, conforme estudos franciscanos, seu fundador assinava deixando a marca deste símbolo.  

 

Consideramos a cruz como um símbolo fortemente representativo de uma cultura que transformou a cruz, antes ignomínia, com os séculos, marca de uma civilização e de uma comunidade cultural.  

 
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