O DOMINGO 23 10

FECUNDAR A HISTÓRIA PELA PALAVRA

O DOMINGO 23 10

Em nossas décadas atuais, pós conciliares, a difusão e valorização dos Livros Sagrados atingiu um nível somente comparável aos primeiros séculos da nossa Igreja. Claro que não bastam as leituras escolhidas e inseridas nos lecionários, pois em outros momentos da vida cotidiana buscamos outras passagens que possam iluminar nossas ações concretas. De qualquer modo, é valioso que muitos fiéis acompanhem as leituras diárias da missa, para aprofundarem a sua espiritualidade e crescerem no caminho da santificação.

Os padres conciliares do Vaticano II preocupam-se em transformar a instituição eclesial numa comunidade bíblica. Determinou-se que fossem abertos para os fiéis os tesouros dos livros sagrados (SC 51). Este movimento bíblico não se concretiza quando os fiéis atuam apenas como exegetas e estudiosos dos contextos bíblicos. A fecundidade desta caminhada exige que os livros sagrados sejam transformados em inspiração e fonte de engrandecimento da própria opção cristã. Passamos do “conhecer e repetir os textos bíblicos e suas exegeses” para rezar, celebrar e viver os seus ensinamentos.

Quando Deus convoca a comunidade para celebrar e lhe dirige a voz, na Liturgia da Palavra, ele interpela a própria história cotidiana (CNBB. Doc. 52, n. 66). Corremos o risco da banalização dos textos litúrgicos, assim como os seus conceitos fundamentais. Assinalamos palavras bonitas como partilha, conversão, perdão e solidariedade, mas estas opções não se concretizam na realidade dos cristãos.

Numa pregação sobre a atuação concreta dos ideais cristãos, anunciados nos rituais, os cristãos “mais religiosos” tornaram-se como “parafusos espanados”. Como estes parafusos que giram e não apertam, vivemos o perigo que as palavras nos toquem, nos emocionem e nos façam transbordar, mas não transformam nossa vida. Entendemos os ensinamentos advindos das mensagens bíblicas, mas não transformamos o nosso coração. Vale sempre o questionamento fundamental dos padres antigos: “porque dos sacramentos não nasce a Igreja?” A Liturgia da Palavra é para se ler, rezar e viver os ensinamentos de Cristo.

Sempre a Palavra de Deus deve iluminar os acontecimentos da comunidade e transformar o espírito dos fiéis. Para alcançar veracidade diante do mundo e para sustentar a autenticidade dos fieis, a Liturgia da Palavra provoca mudanças fundamentais em nossa vida e em nossa história, para que a presença de Deus na comunidade não seja em vão e, mais que tudo, para que o mundo creia e se una ao número dos convertidos.


Fonte: O DOMINGO – Semanário Litúrgico-Catequético –23/102016

Pe. Antônio S. Bogaz – Prof. João H. Hansen

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PBJH