MISTERIO PASCAL CHAMADOS PARA A VITORIA

MISTÉRIO PASCAL

CHAMADOS PARA A VITÓRIA

 

Eis a grande semana, a semana mais intensa e envolvente de todas as celebrações cristãs. Do ponto de vista ritual é a semana mais complexa, mais elevada e mais participada de todos os momentos litúrgicos de nossa vida cristã. Portanto, a Semana Santa envolve uma riqueza impressionante, tanto do ponto de vista dos rituais oficiais, quanto do ponto de vista popular. A Semana Santa é um caminho, caminho da fé e da espiritualidade cristã. Recordam-se momentos importantes dos últimos dias da vida terrena de Jesus Cristo. Seu intenso e magnífico ritual celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e sua permanência na Cidade Sagrada até os últimos acontecimentos de sua paixão e morte, tendo seu ápice na ressurreição. Dentre vários eventos, recordamos a entrada Triunfal de Jesus na manhã do primeiro dia da semana, quer seja, o domingo atual, a última ceia com seus seguidores, a vigília no Horto das Oliveiras, sua prisão, condenação sumária, seu caminho ao Monte Calvário. Estamos diante de um modelo litúrgico, expressivo na tradição do povo de Jesus. Podemos recordar quatro procissões, entre tantas peregrinações do povo. Recordamos a tomada de Jericó (Js 6,1-16), mais tarde, o transporte da arca para Jerusalém ( 2Sm 6,12-19; 1Cr 15,25-16,3), a procissão devocional e profética de Neemias ( Ne 12,27-43), e a grande procissão de Judite diante de todo seu povo ( Jt 15,12-16,18). Estas procissões são rituais religiosos pois, somando a dimensão da luta e da conquista do povo, encontramos a prece, a gratidão, a penitência e o louvor. O povo a caminho busca Jerusalém e leva oferta e dons a Javé, que, de resto, é seu companheiro e seu protetor.

 

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ROTEIRO DE UM MISTÉRIO SAGRADO

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As últimas horas de sua vida relatam sua crucifixão, morte, sepultamento e ressurreição. Somos todos convidados para viver em comunidade estes acontecimentos e assim renovar nossa fé e fortalecer nossa vocação cristã. Anotemos os rituais neste itinerário semanal.

 1 – Domingo de Ramos – Celebração da Procissão de Ramos e da Paixão do Senhor.

 2 – Manhã de Quinta Feira – Celebração da Bênção dos Óleos.

 3 – Início do Tríduo Pascal – Celebração de Lava-Pés e da Ceia do Senhor.

 4 – Sexta feira Santa – Celebração da Paixão do Senhor.

 5 – Sábado Santo – Vigília Pascal – Ressurreição do Senhor

Desde os tempos mais primitivos, a comunidade celebra estes rituais, algumas vezes de forma muito solene, quando não eram acuados pelo horror da perseguição do Império Romano. Celebrava-se no Oriente e no Ocidente com grande participação de todos os fiéis, seja nas casas, nos esconderijos ou nas praças.

O testemunho mais singular destes rituais é narrado por uma peregrina que viajou pelas terras da Palestina, visitando os lugares sagrados e também convivendo com a comunidade cristã em Jerusalém.

Os cristãos naquela cidade eram numerosíssimos e viviam os acontecimentos em forma de rituais. Para maior vivência dos mistérios, reviviam os passos de Jesus por meio de símbolos e leituras, nos mesmos lugares e horários onde os fatos ocorreram alguns séculos antes. Sentiam-se no meio da multidão que acompanha os eventos trágicos e memoráveis da história do Homem de Nazaré. 

Este é o mistério pascal, para o qual todos somos convidados: sermos solidários na dor de Cristo para entrarmos com ele na vitória da ressurreição.

 

 A CONTRADIÇÃO DE UM POVO 

Naquela semana inesquecível, o povo vive uma grande euforia. Jesus, que se tornara famoso por suas pregações, milagres e coragem profética, está chegando na cidade. A cidade está em grande excitação, pois é a semana pascal dos judeus. Jesus está chegando e seus apóstolos estão com ele. O povo grita feliz: Hosana Hey.

Os discípulos seguem juntos, o povo segue a orquestra da festa e clama sem parar, colocando tapetes e flores pelo chão. Todos conhecemos esta grande festa e a vivemos na manhã do Domingo de Ramos.

Somos convidados à louvação. O povo está feliz, pois recebe seu mestre e rei, na humildade de um jumentinho. Jesus não vem num cavalo de guerra, para atacar e destruir a cidade, para se apossar de suas riquezas e de seu povo. Suas vestimentas são humildes e pobres, como se veste o povo, longas túnicas, pés descalços ou com sandálias rotas e nenhum adorno de riqueza. 

O povo o aclama como verdadeiro rei, que vive para o povo e que o serve. Salve o Rei dos Judeus, ecoam os gritos, com os braços erguidos em aclamações festivas. 

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Não é outro povo; sim, é este mesmo povo que vai gritar aos pés do palácio de Pilatos: “crucifica-o; solte Barrabás” Se o domingo é o dia da aclamação e louvações, a sexta feira é o dia do perdão e da humildade. Eis a contradição do ser humano.

Muito se pergunta pela razão desta contradição. Não é o mesmo povo, a mesma cidade e os mesmos personagens? Porque no domingo aclamam o Nazareno como rei e mestre e dias depois o renegam diante de um rei e em competição com um malfeitor?

As razões externas são conhecidas; os chefes dos sacerdotes incitaram o povo e, pelos relatos dos evangelhos, distribuíram moedas na calada da noite para que o povo gritasse contra o homem justo.

Não é diferente em nossos tempos, quando deputados e senadores são comprados pelos poderosos para votar interesses escusos e entregando sua honra por grandes somas de dinheiro. Os fatores externos sempre condicionam o espírito quando este é fraco e volúvel.

Esta á a outra contradição. Nos deixamos vencer pelo mal e nos tornamos cúmplices dos interesses dos poderosos para satisfazer nossos próprios interesses. Somos coerentes muitas vezes, mas outras vezes, somos carregados de contradição. Por isso, devemos sempre pedir perdão e recomeçar. Mas sobretudo, devemos ficar atentos, pois ‘nosso adversário, o diabo, está sempre à espreita, querendo nos devorar”. Precisamos sempre da graça de Deus.

Mas afinal, porque celebramos os dois rituais – louvação e condenação – no primeiro dia da Grande Semana? Acredita-se que eram dois rituais separados nos tempos medievais. Os fiéis vinham para as cidades e eram acolhidos pelos celebrantes.

Na parte da manhã participavam da parte festiva dos Ramos. Era então uma celebração muito dinâmica, alegre, com procissões e festejos barulhentos e festivos, ornados de roupas, fantasias, flores e ramos. No entardecer, antes de voltar aos seus lares, os fiéis eram reunidos na comunidade e os sacerdotes proclamavam a narrativa da paixão, levando a todos ao espírito da Semana Santa, com maior sobriedade, silêncio e jejuns.

 

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CONVIDADOS PARA A CEIA

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Na noite da quinta feira, celebramos a grande ceia do Senhor. Um ritual belíssimo, que é a gênese de todas as missas, que os cristãos celebram há 20 séculos em todos os cantos do planeta. Naquela noite, Jesus quis deixar o grande memorial de sua vida para todos seus seguidores. Buscou nos dois alimentos mais simbólicos de todas as culturas a representação de sua própria vida, de sua história. Não mais haveriam de sacrificar cordeiros, nem animais outros. Sua oferenda é o sacrifício definitivo de uma aliança para sempre, uma aliança perpétua.

Somos todos convidados para participar da ceia sagrada, a eucaristia. Mas o portal deste ritual maravilhoso é a humildade e o serviço. O próprio Senhor nos deu o exemplo: antes de participar da ceia, é preciso lavar-se os pés, quer dizer purificar-se com humildade de pecador que se arrepende. Ainda mais, é preciso lavar os pés dos irmãos, com a mesma simplicidade dos servos, que lavam os pés de seus senhores quando voltam dos campos. Jesus assume para si e seus discípulos as posturas dos servos, para que aprendamos que a grandeza de espírito está em servir e nunca ser tratado como superior, como senhor dos pobres. 

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Aprendemos a grandeza destes gestos quando observamos as atitudes de Jesus. Encontramos unidos os dois rituais, que não são contraditórios, antes, complementares. Para participar da ceia é preciso se entregar, como Cristo se entregou por nós na cruz. Somos convidados para a ceia e o ingresso verdadeiro para esta solenidade é, como anotamos, a humildade e o serviço.

 

PROCISSÕES, CRUZES E MENSAGENS

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As procissões desta semana são maravilhosas e carregadas de sentido. Antes de tudo, a procissão da cruz, na Sexta Feira, é o ritual oficial, onde revivemos os últimos passos de Jesus, seu sofrimento e sua morte. Nestes momentos, percebemos o comportamento dos grandes personagens deste acontecimento. Podemos ser omissos como o povo, que segue o condenado como se participasse de um grande circo, podemos ser servos dos malfeitores como os soldados que cumprem um serviço, como criminosos sem consciência ou mesmo sermos atiçadores da maldade como os sacerdotes do templo. Tem pior, tem os malfeitores do palácio, governantes e juízes, sinédrio e parlamentares que exercem suas maldades escondidos em grandes livres da lei e se escondem como se fossem inocentes.

O convite é outro, bem mais nobre. Somos chamados a ser verônicas,cirineus, arimatéias ou Nicodemos. A tentação de fazer o bem deve prevalecer sobre a tentação do mal.

 

Somos convidados para a história de Jesus e podemos ficar com Ele, como Maria e os apóstolos, ou podemos ficar alheios e omissos.

As procissões desta semana revelam a grande piedade popular, onde se misturam a consternação e a indignação. O povo lamenta as dores de Maria, na procissão do Encontro. Algumas procissões muito criativas que saem dos cemitérios e vão na direção da cidade ou que saem da Igreja e vão até um cruzeiro na cidade, mostram como esta semana envolve

os fiéis. Mesmo que exista um grande movimento paganizante que quer afogar estas tradições para apagar a religião do coração do povo, a espiritualidade quaresmal continua a tocar o coração dos fiéis. Somos convidados a viver estes momentos e não deixar que se apaguem a memória e a religiosidade do coração de nosso povo.

 

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CONVIDADOS PELO BATISMO

Todos somos, pelo Batismo, convidados para viver esta tradição maravilhosa da história de Jesus Cristo, que se realiza em nossa vida. Por nossa consagração batismal, somos unidos ao mistério pascal de Cristo e os vivemos em nossa vida, como Jesus as viveu em sua própria história. O verdadeiro cristão católico não deixa passar em vão este convite sagrado, antes, coerente com sua fé e comprometido com sua comunidade, participa desta semana como uma semana sagrada. É o grande momento da própria conversão e santificação. Todos fiéis celebram com alegria e emoção estes rituais e atingem o ápice da própria consagração batismal.

 

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz – Prof. João Henrique Hansen
Autores de A praça da dádiva. Ed. Lafonte. 2017
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UNIDADE PRESBITERAL: BÊNÇÃO DOS ÓLEOS
Na manhã de quinta feira, uma celebração marca o encontro de todo clero, a unidade dos presbíteros com o seu pastor. Nesta celebração, ocorre a bênção dos santos óleos. A mistura dos óleos com essências especiais de perfume. O óleo da oliveira é misturado com o bálsamo e consagrado pelo Bispo, para serem usados nas comunidades paroquiais, quando celebram os sacramentos do Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordenação. A partir de 1955, o Papa Pio XII definiu esta celebração para reunir o clero ao redor do seu bispo. Torna-se um dia sacerdotal, com um ritual de renovação das promessas próprias dos sacerdotes, durante a missa crismal. Os óleos são muito específicos:
Óleo do Crisma – a mistura do óleo e do bálsamo, com uma oração específica expressam a plenitude do Espírito Santo. O cristão deve sempre irradiar com sua vida “o bom perfume de Cristo”. Este óleo é usado no Sacramento da Confirmação ou Crisma. Por este sacramento, conhecemos pela consagração do óleo, o fiel é confirmado na fé e assume sua maturidade. Na consagração sacerdotal este óleo é usado na unção das mãos. A cor simbólica deste óleo é o branco ouro. 
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Óleo dos Catecúmenos – Este óleo abençoado sempre é usado nos rituais introdutórios do Batismo, tanto adultos, quanto crianças. Este óleo tem uma tradição antiga, pois era usado na acolhida dos catecúmenos, no início da Quaresma. Era o primeiro sinal da graça de Deus sobre os candidatos. A cor vermelha é a expressão simbólica deste óleo.
Óleo dos Enfermos – A mistura do óleo com o bálsamo, somado com a oração de bênção, é usado na Unção dos Enfermos. Manifesta a força do Espírito de Deus para fortalecer o enfermo para lutar pela sua vida e fortalecer seu espírito na sua via dolorosa da doença. É uma força na provação da doença e uma confirmação da própria fé no seu sofrimento. A cor simbólica deste sacramento é roxa.
Esta celebração dá o sentido da unção: proclamar a libertação, curar os cegos, libertar os oprimidos e proclamar um tempo bom da graça do Senhor (Lc 4, 16-21). Pela unção dos óleos, que é a efusão do Espírito Santo para servir o povo de Deus, a Igreja realiza esta profecia em nossos dias: transformar o mundo em Reino de Deus.
(do livro: QUARESMA, RITUAS E SIMBOLOS. Ed. RECADO. 2015)