MARIA, VOCAÇÃO DIVINA

MARIA, VOCAÇÃO DIVINA NUM CORAÇÃO HUMANO


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Como o mistério mais elevado de nossa doutrina é a revelação Trinitária, Maria participa deste mistério como servidora para a manifestação desse mistério no mundo.

Uma canção popular se pergunta: porque amo assim Maria? Não é difícil constatar esta verdade, que está no coração dos cristãos. O amor à Mãe de Jesus é uma das inspirações mais elevadas de nossa espiritualidade e tem motivado grandes iniciativas em favor de nossa Igreja e de toda humanidade.

Independente do modelo de crença ou devoção a Maria, somente grupos cristãos incitados ao anti-catolicismo podem rejeitar a docilidade e a ternura que emana do coração daquela que “foi escolhida para trazer ao mundo o próprio Filho de Deus”.

Todos os cristãos sabem e reconhecem que o âmago de nossa fé é o próprio Cristo e deste mistério pascal emanam todas as nossas manifestações devocionais. Sabemos, porém, que a presença de Maria é muito viva em nossa espiritualidade e em nossas celebrações.

Toda liturgia proclama a presença fecunda de Deus na história, realizada por Jesus Cristo. Em sua ação salvadora, Ele se serve de “parcerias” que dinamizam sua ação no mundo.

São os grandes nomes bíblicos e suas profecias, bem como nossos grandes santos,  e sua dedicação ao povo e à Igreja. Nenhuma parceria é tão primordial e elevada como a oferta do “sim” da mesma Mãe de Jesus a, a mulher  de Nazaré. 

Maria é venerada como “vocacionada de Deus”, a mulher que participa de uma missão e entrega sua vida para que se realize o projeto misericordioso de Deus. Por esta razão, Maria está presente em todas as celebrações de nossas comunidades, sempre como serva fiel e dedicada ao Senhor.

Por certo, todas as celebrações cristãs expressam o mistério vivo de Cristo na história e reconhecem a presença de Maria, como coadjutora deste caminho de salvação.  Porque está unida a Deus, vive os passos de seu Filho, nas alegrias e nas dores, Ela faz parte de nossa vida de fé e de celebrações. 


SIM DE MARIA NA MANJEDOURA

Deus quer participar da história humana. De fato, desde o início da criação, Ele está presente com seus seres criados; mas na plenitude dos tempos, sua intenção é “habitar entre nós”.  E veio humilde e simples numa manjedoura, entre os pastores mais pobres, as palhas mais humildes e os animais que dividiam consigo os pequenos espaços de sua estrebaria. 

Maria está presente, pois aceitou um convite extraordinário: ser a portadora do Filho de Deus ao mundo. Por sua resposta positiva ao anjo, torna-se serva do projeto salvador do mundo. O convite do anjo, representando a vontade de Deus é um pedido para integrar-se no itinerário da salvação.

Quando aceitamos um convite divino, para participar de um projeto em favor da comunidade, da Igreja ou da sociedade, nos integramos num itinerário para realizar o bem, em favor dos irmãos. Nem sempre temos consciência, mas devemos estar abertos às suas consequências. Maria aceita caminhar por estradas desoladas, partindo da Galileia para  Belém, enfrentando poeira, frio, fogo e cansaço. Sua missão e sua entrega vocacional implicam nos sacrifícios inerentes à sua realização.

Ninguém, nem mesmo Maria, busca o sacrifício; antes procuramos tranquilidade e vida sem percalços; mas quando assumimos uma missão, aceitamos os seus desafios.

Para estar na manjedoura, contemplando o “menino divino”, seus pais, Maria e José, correram todos os riscos, como a difamação, o escondimento e a luta silenciosa dentro de uma sociedade carregada de preconceitos, sobretudo contra as mulheres.

Como Maria, nossa vocação de servir o Filho de Deus, implica no comprometimento com os desfavorecidos, o desalojamento de nossa comunidade, a busca do outro; estas posturas implicam em críticas, riscos de vida e sacrifícios.

Maria simplesmente disse sim. Sua vocação, revelada na manjedoura, exigiu sua entrega e suas consequências, como toda resposta positiva dos vocacionados implica em compromissos concretos e corajosos.

 

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AS FESTAS DE MARIA NA VIDA LITÚRGICA 

As festas marianas nas celebrações são muito frequentes. Conhecemos muitas festas  e elas são muito apreciadas pelos fiéis. Naturalmente os pastores da Igreja e as equipes de serviço das celebrações devem estar  atentos para a  correta integração da figura de Maria dentro dos rituais. Podemos caracterizar  a devoção mariana em vários sentidos, como podemos definir, a partir dos textos litúrgicos. Como reconhecemos que  nenhuma celebração mariana tem sentido fora a ação de Cristo como Salvador, reafirmamos que o mistério pascal de Cristo é único e pleno e a figura de sua Mãe, bem como  as devoções marianas enriquecem e explicitam a vivência deste grande Mistério.  Se o mistério é o Senhor vivo e ressuscitado, Maria, em todos os momentos da vida de seu Filho, participa e serve este mistério com sua doação maternal.

Ao longo dos séculos, compondo a tradição litúrgica de nossa Igreja, nossos pastores e místicos anotaram e aprovaram solenidades, festas e memórias marianas, que serviam para o crescimento espiritual do povo.

Quando acompanhamos a estrutura do Missal Romano, bem como da Liturgia das Horas, descobrimos algumas solenidades marianas, que estão profundamente ligadas a eventos cristológicos. Nós encontramos estes rituais nos prefácios e na celebração dos Santos, sendo que algumas ocupam lugares privilegiados dentro da comunidade. 

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Nossa Senhora da Conceição Aparecida

Quando se trata de uma solenidade, ela é celebrada mesmo nas liturgias dominicais. Em alguns casos, a própria Igreja a transfere para o dia de domingo, para ser vivida com mais ênfase por todos os fiéis. No caso da Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, normalmente nem é necessária esta transferência, uma vez que é considerado como feriado nacional.  Algumas solenidades são celebradas no Domingo, como a Assunção de Nossa Senhora e mesmo a Imaculada Conceição. Nem sempre sua celebração vai para o Domingo, pois em se tratando do Advento, a Igreja privilegia este momento mais forte do Ano Litúrgico.

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Assunção de Nossa Senhora

As solenidades de Maria apontam sempre para a sua presença na vida do seu Filho, servindo com sua vida e sua vocação no mistério de nossa salvação. Maria está presente na vida de Jesus, Ela é levada ao céu por Ele e por Ele é mantida pura, por graça divina.

Confirma-se sempre que o fundamental não é a figura de Maria, por mais importante e preciosa que seja, mas sua dedicação ao plano de salvação da humanidade, que Jesus veio realizar e que Ela dedicou-se plenamente. O tema mais importante nestas solenidades é a intercessão de Maria junto ao povo, como se deu nas Bodas de Caná, que é lido na solenidade de Aparecida. Como encontrou graça diante de Deus, Ela personifica a mulher do Apocalipse, que enfrenta o dragão para gerar o menino que traz ao mundo a redenção.

Esta mesma intercessão se manifesta na vocação de Maria como “segunda Eva”, quando aceita o convite divino, na voz do mensageiro Gabriel.  Ela é considerada participante da libertação da humanidade. 


A ALEGRIA E A DEVOÇÃO DAS FESTAS MARIANAS

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Além das solenidades, encontramos as festas marianas. Diferentemente das solenidades, não podem ser celebradas nos domingos, a não ser com aprovação pelas autoridades eclesiásticas.  Estas festas são muito devocionais, uma vez que se reportam a fatos históricos que tocaram enormemente a população. De algum modo, estas festas geográficas são mais presentes em certas regiões. 

Quando recordamos a Festa da Nossa Senhora de Guadalupe, sabemos que são os povos latinos que a valorizam mais fortemente. Quando se trata de festas localizadas, são aqueles povos que a vivem mais intensamente; no lugar da festa ou onde estão seus descendentes.

Algumas festas são eventos bíblicos, como a visitação de Maria, onde destaca-se o serviço de Maria, na sua visita a Isabel. O grande objetivo é valorizar a dedicação e a humildade da Mãe de Deus, para socorrer sua prima em dificuldades.  Também a Natividade de Maria procura valorizar o nascimento e a vida de Maria.

Seu primeiro objetivo era perpetuar a lembrança do “lugar abençoado de seu nascimento”. Estas festas estão ligadas, no calendário romano, com a encarnação de Cristo, como se fosse o cenário espiritual que prepara a vinda do Salvador do mundo. 

As memórias de Maria são muito frequentes em nosso calendário litúrgico. Quase todas elas são oriundas de devoções particulares e aparições que se popularizaram e, de algum modo, invadiram todo mundo cristão ocidental. 

As memórias de Maria são preciosas, pois os fiéis se encontram e se espelham nas suas mensagens. Todas estas mensagens são fortalecimento para nossos cristãos em momentos de aflição e de adversidades. 


FÉ EM  CRISTO, DEVOÇÃO EM MARIA

Todas estas celebrações valorizam a figura de Maria, mas exaltam a fé em Jesus Cristo. Maria, como figura humana de mulher e mãe, nos coloca próximos da ternura de Deus. Pela ternura de Maria, descobrimos a ternura divina; pela presença de Maria, sentimos Deus junto de nós, sobretudo nos momentos difíceis de nossa vida. Maria é o caminho que nos leva para Deus, que nos engrandece.

Como Maria de Nazaré, é celebrada como uma mulher que viveu o cotidiano, na faina diária, cuidando de Jesus. Como discípula em Canãa, sabe convencer seu Filho a socorrer os necessitados, como mãe aos pés da cruz, dá-nos a certeza que nunca estamos abandonados. 

Maria é o reflexo vivo e cotidiano da presença divina em nossa história. Ao mesmo tempo que é exaltada como Mãe de Deus e Rainha do Universo, Ela  é elevada por sua simplicidade diante do plano divino e serve a humanidade. É um caminho seguro de chegar a Deus. Nos passos de Maria, descobrimos o amor de Deus e vivemos nossa consagração batismal.

 

 



Prof. João H. Hansen – Pe. Antônio SagradoBogaz: orionitas

Autores de Novos tempos da vida litúrgica: Paulus. 2014

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Conhecendo mais…


 

OS MESES TEMÁTICOS: MAIO, MÊS DE MARIA

Durante o ano litúrgico, especialmente no tempo comum, a igreja no Brasil foi criando alguns  meses temáticos, a partir das necessidades de evangelização e catequese do povo cristão. A piedade popular dedica a Maria dois meses preferenciais. O mês de maio, ainda dentro do tempo pascal, é celebrado de forma mais intensa, e o mês de outubro. Como estas devoções têm origem popular, fica difícil determinar sua procedência exata. O certo é  que o mês de maio contempla a celebração de Nossa Senhora de Fátima (13 de maio), que por influência dos portugueses está muito presente em nosso povo, e o mês de outubro contempla a celebração de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), que tem sua devoção espalhada em todo o Brasil. No mês de maio, a prática litúrgica das nossas comunidades convergem para a espiritualidade mariana. Nas missas e noutras celebrações aparecem cantos, mensagens e dinâmicas que visam homenagear a mãe de Deus. Embora as leituras, prefácios e orações das missas  contenham o tema do tempo litúrgico, as celebrações são preenchidas por reflexões e eventos relacionados com Maria. Aparecem ainda as coroações, rosários, procissões e tantos outros rituais devocionais. Tudo para enaltecer a missão de Maria.

RITUAIS MARIANOS DEVOCIONAIS

Belíssimas são as coroações de Nossa Senhora que são realizadas muitas vezes dentro das celebrações eucarísticas. Geralmente acontecem no final da missa, mas muitas vezes também no início. Este ambiente mariano condiciona as reflexões e a espiritualidade da celebração, para ter a presença mais abundante dos fiéis. Nos cultos comunitários, onde se reza o terço e as orações marianas, o acento é ainda muito mais forte. Maria é venerada como mãe e mulher. Sendo mãe de Deus, é assumida como mãe de todos os cristãos. Como co-redentora da salvação, Maria está sempre intercedendo a Jesus por todas as nossas intenções. As comunidades rezam o terço e praticam outras devoções, que para o povo são muito significativas. Podemos pensar, por exemplo, na ladainha de Nossa Senhora e em todas as suas intercessões. Na prática litúrgica, estes elementos são vividos de forma espontânea. Na tradição popular, maio é ainda o mês das noivas e das mães, contribuindo para reforçar a devoção mariana. 

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