ESTETICA E CELEBRACAO A MEDIACAO DA ARTE NA CELEBRACAO

ESTÉTICA E CELEBRAÇÃO

A MEDIAÇÃO DA ARTE NA CELEBRAÇÃO

 

1
2
3
4
5
6
7

9

11

13

Via Sacra – Capela Santa Maria Goreti 

8

10

12
 
14

Artistas: Padre Bogaz e Equipe de Pintura da Paróquia 


Existe um provérbio popular que afirma “beleza não se põe na mesa, tampouco se joga no chão”. Entendemos a importância da  estética na tradição da Igreja, perpassando a espiritualidade, a arquitetura, os tempos e, particularmente, a vida litúrgica.

Pode-se até dizer que a estética não é essencial, mas não se pode negar que faz grande diferença o ambiente celebrativo. Simplesmente porque a arte é inerente ao ser humano e, mesmo respeitando as diferenças culturais, a busca do belo faz parte dos anseios humanos.

Percorrendo os períodos históricos, notamos grande diversidade na representação iconográfica e nas apreciações artísticas (música, arquitetura, pinturas, vestes e símbolos),  mas em todos os casos, reconhecemos a beleza como ideal de todo repertório litúrgico e de toda mediação religiosa. Nesta perspectiva, procuramos entender a arte, dentro dos parâmetros da litúrgia e da espiritualidade, distinguindo seus vários estatutos, entre tantos, o mais importante é a distinção entre arte religiosa, arte sacra e arte litúrgica.

 

ARTE RELIGIOSA E ARTE SACRA

É muito importante para nós, católicos e cristãos, entendermos  a diferença entre arte religiosa e arte sacra. Quando entramos numa igreja com uma infinidade de objetos, pinturas, imagens e outros adornos,  por estar num templo sagrado, temos a impressão que tudo o que está dentro é arte sacra ou arte religiosal. Afinal eles estão compondo uma riqueza de trabalhos voltados para a religiosidade que, por sua vez, é de origem sagrada.

Existe de fato uma arte religiosa e uma arte sacra. De fato, a diferença entre uma e outra está fundamentada não na fonte de origem ou de inspiração de cada uma, mas no propósito da obra de arte. Entendemos que existem obras cuja inspiração vem diretamente da religiosidade do artista. Pensamos em seu imenso trabalho para pintar uma tela, esculpir um mármore ou talhar uma madeira, entre todas as espécies de objetos escolhidos. No entanto não são dirigidas para o culto, de modo que não podem ser consideradas  arte sacra

Podemos então dizer que a arte religiosa é aquela que vem diretamente do artista, que transmite através de sua obra seu mundo interior, seu pensamento, experiência e crença e desta maneira remete à sua própria religiosidade. A religião faz com que o homem  através da arte  possa mostrar o amor, a misericórdia, a fé, a esperança e sua visão de Deus. O artista faz com que a finalidade da arte religiosa ocorra em suas obras, dignificando este trabalho e revelando os valores e dogmas de sua religião.

Entendemos a arte sacra como uma arte religiosa, mas que se direciona para a liturgia,  ou seja, sua finalidade é fecundar a vida litúrgica dos cristãos, de modo que possa ser utilizada para o culto divino. Assim, a arte religiosa é o sentimento da fé e da devoção expressa em obras plásticas, como a pintura, escultura e partituras, ao passo que  a arte sacra serve ao serviço litúrgico.

 

REQUISITOS DA ARTE SACRA

A arte sacra necessita de uma sequência de requisitos  que são fundamentais para reconhecer o seu conteúdo com maior riqueza de detalhes. Tomemos como exemplo uma imagem de um santo. Ele pode nos despertar um sentimento religioso, mas devido seu estilo, ele pode não ser adequado para a celebração, perante esta imagem. Os  requisitos necessários que elaboram a obra artística, mesmo que ela seja imbuída de um sentido religioso, pode não estar de acordo com o que se espera da obra de arte sacra. Pode ser maravilhosa do ponto de vista estético, mas não ser propicio para o culto. Serve à transmissão da mensagem, mas não para enriquecer o rito.

No entanto, podemos dizer que  se trata de uma  obra de arte religiosa. Pode acontecer que uma imagem seja tão moderna que nos chama a atenção pela originalidade, mas não pela espiritualidade que dela se emana. Alegra os sentidos, mas não são fundamentais para a fé e a celebração.

Com efeito, quando a obra é bela, o fiel acaba prestando atenção na imagem, por ser algo diferente, puramente estético,  sem entrar na comunhão com o ambiente do templo e dos sacramentos, não se integrando ao espaço litúrgico. Neste caso estético, o fiel não está plenamente diante de Deus, pois seu olhar é desviado para a obra que o atrai indevidamente.

Nesta distinção, entendemos que não estamos diante de uma arte sacra que nos eleva espiritualmente, mas sim diante de uma arte religiosa. A arte sacra nos conduz à liturgia e necessita, portanto, que mantenha um grau de espiritualidade muito maior.  

Não devemos estar diante de Deus, desviarmos o olhar  e ficar admirando uma imagem bonita, porém sem um grau de espiritualidade que nos leva diretamente à liturgia.

Também não é suficiente que o tema da obra de arte, por ser algo relacionado com um aspecto religioso, como, por exemplo a chegada de Jesus Cristo em Jerusalém montado num jumento, possa ser um  quadro deste momento histórico.

Devemos observar que esta representação, mesmo interessante e cheia de vida, não será arte religiosa e nem mesmo arte sacra, se  não tiver a intenção de mostrar o mistério divino que ali está instaurado.

Há necessidade de ter condições de elevar os fiéis  à espiritualidade daqueles que contemplam o quadro. Contemplando-o, ele se sente realmente tocado na sua espiritualidade e entende que aquele momento divino faz parte da história do cristianismo.  

3
Quadro “Milagres de Santo Antônio” – Capela Santo Antônio – artistas:
Pe. Bogaz e equipe de pintura – Paróquia Nossa Senhora da Saúde

Esta percepção leva o observador a entender o que significa em sua fé a beleza do quadro que o fascina. Na percepção, a arte  não faz com que ele se perca na obra,  antes,  a contemplação o conduz ao mistério através do ritual.

A arte sacra, é claro, não deve ser elaborada com o único intuito de dedicar-se à Liturgia e oferecer sua arte nesta função. Devemos compreender, no entanto, que agindo assim, favorece ainda mais sua estética. A contemplação leva o artista a direcionar-se na religiosidade completa de sua obra ao mesmo tempo que a insere na arte religiosa e na arte sacra. A autêntica obra de arte terá os dois elementos juntos, quer dizer, deve ser religiosa e sacra.

Podemos,  então,   dizer que a relevância da arte sacra é que ela possa conscientizar o fiel, ensinando-o diante da obra sacra, porque a imagem é uma forma de celebrar  a Liturgia. Nenhum exemplo pode ser mais confincente que a obra bizantina, que além de bela é um compêndio maravilhoso do ensinamento da Teologia. Desta maneira, temos a possibilidade de apresentar todos os caminhos de nossa fé. São expressos na arte  os dogmas e os sentimentos piedosos. A arte na espiritualidade ou na liturgia representa e expressa a profundidade de nossa crença, nossos sentimentos religiosos e nossa simbologia.

 

ARTE SACRA E AS ORIENTÃÇOES ECLESIÁSTICAS

FB_IMG_1466675827656

Padre Bogaz e Fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Saúde – Exposição Artes Sacras – Casarão da Cultura – Rio Claro

Sempre houve uma preocupação da própria Igreja, para orientar os artistas na confecçao da arte religiosa e especialmente a arte sacra.Nos últimos tempos, particularmente pela orientação doo Concílio Vaticano II encontramos que “a Igreja se considerou sempre, com razão, como árbitro das mesmas, discernindo, entre as obras dos artistas aquelas que estavam de acordo com a fé, a piedade e as leis religiosas tradicionais e que eram consideradas aptas para o uso sagrado” (Sacrosanctum Concilium, 122).

Esta afirmação conciliar nos faz compreender que  a  Igreja sempre apreciou a atividade artística. Citamos, por exemplo a beleza da Capela Sistina, no Vaticano, pintada por Michelangelo, que durou anos e anos para que ela terminasse e uma infinidade de obras nas diversas áreas que traçaram a história do cristianismo.

Por sua preocupação pedagógica, o que a Igreja sempre fez foi selecionar a arte sacra em função das atividades litúrgicas e desta maneira evitar as idiosincrasias profanas que não se direcionam para a arte sacra. A arte tem que servir ao culto e às doutrinas da Igreja e não desviar os fieis deste caminho, mesmo porque serviram, muitas vezes, como instrumentos de catequese. A Igreja procura também entender a música e outras formas de arte, para que o lado profano nunca venha a perturbar o lado sacro destas atividades. 

Devido a grande cisão da Igreja, no século XVI, motivada pelas ideias de Lutero, tivemos o conhecido fato histórico chamado de Reforma Protestante. Neste período, a Europa estava  vivendo o fim do período feudal e conhecendo a consolidação da burguesia, impulsionada pelos surgimentos das cidades.

O Concílio de Trento, após a cisão, procurou, então, estabelecer algumas regras que não foram mais modificadas até o Concílio Vaticano II. Passaram-se vários séculos.

No entanto o que a Igreja procurou, de fato, foi estabelecer um sentido tradicional que existe no culto, representado pelas imagens de Jesus Cristo, Virgem Maria e de muitos santos, e de certa forma quis também realçar os mistérios da redenção, com pinturas e reproduções. Com este proposito, a Igreja pretende que os dogmas da Igreja sejam preservados. 

No tocante ao Código de Direito Canônico,  existem orientações sobre a construção de templos, imagens, utensílios litúrgicos, sacrário, música, guarda e vigilância do patrimônio artístico entre outros. Estas orientações servem para que não sejam desvirtuados os própositos da celebração litúrgica. 

Lembrando que a  Enciclíca Mediator Dei nos fornece indicações  sobre a música sacra e as artes em geral no culto litúrgico, onde podemos ver o quanto a Igreja se preocupa com estes temas. No entanto, a hierarquia eclesiástica fez algumas intervenções, para que a arte sacra pudesse ter contornos mais suaves e não somente as proibições que eram do âmbito da Sagrada Congregação de Ritos. Procurou, também,  dar normas para as manifestações de arte sacra, o que veio melhorar nestes últimos séculos a arte, pois como sabemos elas passaram por inúmeras escolas, como a clássica, gótica, bizantina, românica, moderna, latino americana e tantas outras.

Infelizmente não temos condições de mostrar profundamente a história da arte neste artigo; mas lembramos de alguns estilos, pois a Igreja sempre esteve em evolução na arquitetura, pintura e escultura em todos estes séculos, tendo em seus templos verdadeiras obras de arte. Como exemplo de um estilo que foi utilizado durante séculos, não se pode falar de arte religiosa e arte sacra sem lembrar do aspecto histórico que a arte bizantina representou para a Igreja.

 

IMG_2176

 

IMG_1807

Via Sacra – Capela Santa Luzia

IMG_1831

 

IMG_1912

Artistas: Padre Bogaz e Equipe de Pintura da Paróquia

ARTE SACRA UNIVERSAL: AS IMAGENS DO SAGRADO

A arte bizantina foi uma fusão de interferências helênicas, romanas, persas, armênias e de outras fontes orientais, de modo que foi protegida a cultura clássica greco-romana. Desta interessante mistura, podemos dizer que a cultura bizantina formou um novo estilo de arte, extremamente rico na técnica e nas cores.

Para a Igreja católica, o objetivo da arte bizantina foi apresentar através desta arte, o sentido maior do espiritual sobre o material, tendo como eixo diretriz a elevação da contemplação das coisas espirituais da religião. É interessante lembrar que o clero era um grande organizador da arte, de modo que os artistas acabavam executando as obras propostas.

A forma grandiosa das figuras retratadas, foi colocada nas obras da arte bizantina e  mostravam um  caráter solene e majestoso, além de serem mais vivas e mais chamativas por causa das suas tonalidades.

Desta arte bizantina surgiram os modelos para a Idade Média. É importante entender que nesta época a arte representou uma teologia com suas imagens. No interior dos templos a arte bizantina fortaleceu através das pinturas, mosaicos e esculturas e como doutrina na arte, colocou os dogmas da Igreja. 

5

Padre Antônio Sagrado Bogaz e alguns membros da Equipe de Pintura da Paróquia Nossa Senhora da Saúde

 

O Concílio do Vaticano II deu também suas contribuições e indicações concretas para a arte sacra: “A Igreja procura com especial interesse que os objetos sagrados sirvam ao esplendor do culto com dignidade e beleza, aceitando as mudanças de matéria, forma e ornato que o progresso da técnica introduz com o correr do tempo”. Em consequência, os padres decidiram determinar acerca deste ponto o seguinte: “A Igreja nunca considerou como próprio nenhum estilo artístico, mas, acomodando-se ao caráter e às condições dos povos e às necessidades dos diversos ritos, aceitou as formas de cada tempo, criando no curso dos séculos um tesouro artístico digno de ser conservado cuidadosamente”.

O que deve ser preservado é a arte de todos os povos,  em todos os tempos, principalmente referente a arte sacra ou religiosa, pois é através dela que o artista se manifesta, se encanta e pode reproduzir seus sentimentos. Ficamos admirados com as grandes obras de arte da humanidade que estão nos museus, nas igrejas e em outros lugares. Preservando a arte, estaremos preservando a nossa fé e deixando um legado para as futuras gerações. Os artistas são direcionados pela mão de Deus para fazê-las e nossa alma é direcionada para sentir a dádiva de recebê-la dentro de nossos corações.

A arte sacra é um instrumento que nos eleva os sentimentos e nossos sentimentos evocam a nossa fé. Cada imagem é uma estrada da espiritualidade e da oração.  

 



Prof. Antônio Sagrado Bogaz  – Prof. João Henrique Hansen

Autores de Novos tempos, novos templos. Paulus: 2015

PBJH

Conhecendo mais…   

QUESTÃO ICONOCLASTA
Iconoclasta  foi um movimento de contestação referente à veneração de imagens religiosas. Teve seu apogeu no século VIII, recebendo o nome de questão iconoclasta.  Seu significado nos dá o teor e o conteúdo da discussão, sendo compreendido como “destruidor de imagem”. A filologia é bem simples e direta: eikon (ícone ou imagem) e klastein (quebrar). São termos gregos;
São os fiéis, dentro da própria religião cristã, que rejeitam as tradições e também  crenças. Não Suportam e consideram idolatria a veneração, símbolos e outras representações dentro do culto e na liturgia em geral.Atacaram e investiram contra os templos e seus ícones dentro das igrejas. Foi um movimento fortemente contestador e agressivo.
Historicamente, é um político-religioso. Iniciou-se no Império Bizantino, mais tarde Constantinopla, (século VIII). Recordamos que rejeitava veneração de imagens religiosas;  era, para eles, verdadeiro culto de idolatria. No ano de 730, pelo Édito de Leão III), pelo qual se proibia a veneração de ícones e promovia a destruição de imagens, os partidários deste movimento  destruíram milhares de ícones religiosos. As destruições cessaram em meados do século IX. Hoje o Oriente aceita imagens pintadas, mas ainda não considera dignas de culto as imagens de escultura.
16


          Pintura Oratório Santo Antônio dos Eucalíptos                                           Horto Florestal – Rio Claro                                      Artistas: Padre Bogaz e Equipe de Pintura da Paróquia
20
IMAGENS E DEVOÇÃO NO VATICANO II
Embora tenha diminuído, são frequentes e insistentes as acusações que  os católicos praticam a  “idolatria”, por se servirem de imagens, (estátuas e pinturas) em seus cultos. O apelo é sempre para a Palavra de Deus que, em várias passagens condenam o uso de imagens.
No entanto, na Bíblia não se condena o uso de imagens, mas a adoração de imagens humanas ou de animais como se fossem deuses, como o bezerro de outro e outras idolatrias.
Ainda hoje esta ideia invade fortemente alguns grupos religiosos do Oriente que destroem mesmo imagens milenares.
Trata-se de um erro de compreensão do culto cristão e católico. Antes de tudo, porque na Bíblia encontramos apresentação de ícones. Basta pensar nas duas imagens de anjo sobre a Arca da Aliança.
Além disso, devemos considerar que a imagem é apenas a  representação artística e plástica dos bens espirituais.
Nenhum cristão adora a imagem, mas serve-se da imagem para atingir nos sentidos a imagem espiritual de Deus. E os santos não são deuses, mas apenas mediadores junto a Deus.
Não nos percamos em discussões que são antes de tudo preconceituosas, antes, sirvamo-nos das imagens para reconhecer as virtudes de homens e mulheres que viveram fielmente a fé e servem de modelos para nossa vida cristã.

 

 *****