CRONICA 05 03

RITO DE PASSAGEM

NOVOS CALOUROS NAS FACULDADES

nanci

Criamos os nossos filhos e de repente percebemos que eles precisam fazer sua própria vida quando chega o resultado do vestibular. Primeiro o sofrimento de acompanhar os filhos durante este processo. Onde tem o curso que pretende fazer? É muito longe. É relativamente perto. Outro estado? Outra cidade mesmo, não tem em nossa cidade? Quanto custa a mensalidade e a hospedagem? É tão novinho ainda, vai ficar longe da mamãe. Longe do papai. Longe da família. Meu Deus. Socorrro!!!

Vem o resultado, os pais e as mães vão nos comunicando. Nanci liga para nos contar a nova:

– O Gustavo passou no vestibular, ai meu Deus, vai para Botucatu.

O Luís Carlos e a Márcia Sciamana ligam para nos convidar para uma oração de comemoração:

O Lucas passou no vestibular, estamos muito felizes, mas vai ter que mudar para lá.

Encontramos o Léo, filho do Tula e da Tina, cabeça raspada.

– Passei no vestibular, vou fazer aqui mesmo em nossa cidade. Não precisarei ir para longe. Já tinha até consultado uma república.

Parabéns para mais um. Este pelo menos vai ficar na própria cidade. Os pais estão radiantes; o curso que ele queria tem aqui, pertinho da casa deles. Isso é raro. Vamos comemorar. O Victor estava silenciosamente  preocupado. Esperava segunda chamada.  De repente vimos os dentes da  Keila, mãe, e a Vó Nice:

Ele passou em três faculdades, mas vai ter que ir para Campinas.

Marcos Ceccato e a Sílvia rindo sozinhos:

A Geovana passou no vestibular, estamos muito felizes. Menina inteligente.

Parabéns à garotada que passou no vestibular. Depois foram agradecer a Deus na missa dos jovens. Ali estavam os nossos heróis, que agora irão enfrentar um curso superior durante alguns anos. E que tristeza pelos jovens que não venceram a concorrência.

Neste período haverão de estudar muito, pois é o seu projeto de vida. Vão de encontro aos sonhos, à profissão que escolheram, às noites em que deverão que estudar mais para uma disciplina difícil. Ficar longe dos pais e vê-los em finais de semana ou dependendo do lugar, até mais tempo para rever a família.

Na realidade é um rito de passagem: sair de casa e procurar o seu canto no mundo. Apesar de todo o apoio dos pais, é uma preocupação total. Mãe e pai já são preocupados por natureza, longe, fica pior ainda. Conhecendo, bem, a Nanci, a Keila, a Márcia, a Sílvia, Tina e todas as mães vão ligar dez vezes por dia no começo:

– Filho, você se alimentou? Levantou na hora certa? Você está bem? Não vai passar necessidade, me ligue. Cuidado com desconhecidos. Os professores são simpáticos? Como são os colegas?

Os pais talvez não ligarão tanto, mas vão perguntar discretamente:

Já falou com seu filho hoje?

Depois é claro, passado um tempo, os pais vão se sentindo mais seguros, mas a aflição sempre será a mesma. Outro dia, Dona Maria de oitenta anos dizia para  a filha Beth de sessenta anos:

Você não pára na sua casa, fico preocupada o tempo todo, com o carro para baixo e para cima com seus netos. Menina toma juízo, cuida mais da sua casa.

Bem, nem se precisa dizer que pai e mãe farão isso a vida toda, mas neste momento todos se sentem imensamente felizes e preocupados. Mas é um período da vida em que todos os pais e filhos terão que desligar um pouco o cordão umbilical e soltá-los, pois isso depende o futuro sucesso de cada um. É rito de passagem, marcado por cabeças raspadas, ovos na cabeça e, quando se tem juízo, trotes solidários e não sadismo.

Certamente, quando chegar a época da formatura, estarão também preocupados. Depois com o casamento, com filhos, ritos de passagem não têm fim. Hoje a garotada está sob nosso olhar, repleta de alegria e sonhos. Que Deus abençoe a cada um que escolheu seu lugar, sua faculdade, sua nova cidade, seus sonhos.

Que sejam verdadeiros ritos de passagem, como novos partos, mas que os conduza a novos espaços felizes de sua existência.

Felicidades a todos os jovens que estão como estes iniciando um novo rito em suas vidas. Ah… papais e mamães, esperaram tanto chegar esta hora. Chegou! Mostrem alegrias infinitas e escondam no coração a agonia da distância.  Isso é amor!

 Pe. Antônio Sagrado Bogaz – Prof. João Hansen