A EPIFANIA DO VERBO A VOCACAO DE ANUNCIAR

A EPIFANIA DO VERBO

A vocação de anunciar

 

Quando está se aproximando o Natal do Senhor, encontramos diversos protagonistas que preparam a chegada do Menino Deus. São figuras importantes dentro das narrativas bíblicas, que nos colocam na trilha da grande solenidade natalina. É impossível não se emocionar com os clamores de Isaías, com as profecias do Profeta Joel e com a coragem de João, o precursor. 

Por certo, nenhum personangem é tão fulgurante como Maria, que oferta a Deus sua vida, para realizar um plano de salvação: Deus veio resgatar o ser humano das garras do mal, para renová-lo em sua vida de graça e de felicidade.

Estes personagens nos colocam no coração do mistério da encarnação, ao lado da manjedoura, no colo de Maria. É uma grande aventura, uma aventura de fé e de amor.

Mas, a festa não termina na manhã do nascimento. A festa cresce e segue espalhahando-se por campos, cidades e nações. A festa se engrandece invadindo corações, sentimentos e vidas.

E os servidores desta causa invadem o céu, os campos e os reinos. Eis que surgem anjos no céu, convidados para a festa.

Eles nos convidam a louvar a Deus: “Oh vinde adoremos”. É a vocação da fé primeira, da fé que nasce na aurora de um novo tempo. Invadem os campos, com os camponeses humildes e alegres que nos convidam a visitar o menino. Mais ainda, invadem nações longinquas que, através dos reis magos, declaram a soberania universal do Menino da manjedoura.

Vamos conhecer os protagonistas desta solenidade que nos fazem mergulhar neste mistério.

 

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Imagens do filme “Pão Divino, a vida de São Tarcísio”

OS PASTORES

Passado o grande momento da vida cristã, que é o nascimento de Jesus Cristo, nos recordamos de vários momentos importantes na vida do Deus-Menino. O primeiro deles, sem dúvida alguma é da estrela de Belém, que acompanha tudo como se fosse uma câmera, que filma do céu o que acontece na Terra. Vai registrando como a história aconteceu. É uma contemplação. Não podemos esquecer-nos dos pastores que estiveram com Jesus logo após o seu nascimento. Jesus quis aparecer primeiramente para as pessoas mais simples, para que eles soubessem que o Messias havia nascido. Eles eram simples, o que significa que Cristo aparece para o mundo, para todos, não especificamente aos judeus. Mas o fato acontece a noite. A estrela de Belém ilumina e na simplicidade deles, eles percebem que algo muito grande está acontecendo. Primeiro entendemos que se trata de uma linguagem usada entre os pastores, daqueles que guardam e  velam os animais.  Alguma coisa que vem do céu  é traduzida no nascimento do menino, que diante do grande acontecimento. Eles entendem a magnitude do ato divino. Deus escolhe a pedagogia simples para alcançar primeiro os pequeninos e depois os grandes. 

  
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OS TRÊS REIS SÁBIOS

 De longe vieram os três reis sábios, Melchior – também chamado de Belchior, Baltasar e Gaspar, que, segundo os estudiosos e arqueólogos,  provavelmente não eram reis, mas sim sacerdotes ou conselheiros da região zoroástrica da Pérsia. Os nomes, provavelmente, venham dos evangelhos apócrifos e da oralidade que passava a história de pais para filhos. Esta tradição foi incorporada na religião católica e os personagens são constantes nos relatos da natividade, o que nos dá uma certeza, de que os três reis magos, como ficaram para a História. Eles seguiram a estrela de Belém para encontrar o futuro rei – que é Jesus. Esta é uma história maravilhosa e carregada de significados.

Devemos lembrar que eles mesmo sabendo que se tratava do nascimento de um rei, foram ao palácio do crudélissimo rei Herodes, em Jerusalém. Perguntaram ao rei sobre a criança, este disse que não sabia, mas sentiu-se totalmente desconfortável, pois era parte da profecia judaica que nasceria um rei. Todos pensavam que seria um rei-guerreiro como fora Davi e Salomão. Isso é motivo de preocupação, pois o rei Herodes tem medo de perder o seu poder.

 

O fato é que Herodes solicitou que voltassem para lhe trazer a notícia. Após ver a criança para contar-lhe, seguiram outro caminho. Eles depois não fizeram, orientados pela própria estrela que os levou para longe. Eles recoheceram que a intenção de Herodes era maligna.

Herodes em sua crueldade, sentiu-se ameaçado e teve a intenção de mandar matá-lo. Ele mentia, ao dizer  aos três reis magos que iria queria adorar o novo rei, logo que eles o encontrassem. Os três reis magos, conta ainda a tradição,  chegaram somente alguns dias depois. Desta feita,  temos uma distância do dia do nascimento para os primeiros dias de janeiro (06 janeiro), data em que teria ocorrido o encontro dos reis com a Sagrada Família. 


OFERENDAS SIGNIFICATIVAS

A estrela de Belém é contada no evangelho segundo Mateus: “E vendo a estrela, alegraram-se eles com grande e intenso júbilo” (2, 10). Como sabemos, os três reis magos ofereceram ao menino Jesus três presentes: ouro, incenso e mirra. São oferendas especiais. O significado dos presentes, entregues na visitação dos magos são muito significativas.

O Ouro, representando a realeza, ou mesmo pode-se entender que seria também a divina providência, para a futura fuga para o Egito. Este fato ocorre, quando Herodes manda matar todas as crianças do sexo masculino com menos de dois anos. Sua intenção é assassinar o Menino Jesus, que com certeza estaria entre estes recem-nascidos.

O incenso  pode ser compreeendido como a fé, pois o mesmo é utilizado nos templos para simbolizar as orações que os homens fazem para Deus. Sua fumaça expande no ar podendo chegar aos ceús. Tem um valor de oferenda agradável a Deus, quando feito com o coração puro e o espírito humilde. 

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A mirra significa o perfume e mais ainda, trata-se de uma resina utilizada desde a época dos faraós no Egito.  A mirra era utilizada em ambalsamentos. Lembramos que na morte de Jesus Cristo foi utilizado alóes,  que é um composto da mirra, como se encontra na narrativa joanina. (Jo 19, 39-40). Estudos realizados atualmene no Sudário de Turim, mostram que  foi encontrado produtos deste tipo no tecido. Há uma coincidência entre o uso da mirra e o aloés usado no sepultmente de Jesue, assim como no sudário de Turim. De qualquer maneira, o sentido da mirra é o  perfume, algo muito precioso na época.

Partindo da festa dos Reis, convém lembrar que as festas epifânicas são normalmente apresentadas como sendo um tempo de missão. Tempo de divulgar ao mundo nascimento de Jesus como uma dádiva para o mundo.

 

SIMEÃO E ANA

Jesus e Maria foram para Jerusalém cumprir as leis mosaicas. Lucas registra o episódio da apresentação do Menino Deus no templo. Para recebê-los estavam os anciãos Simeão e Ana, verdadeiros profetas da esperança de Israel.

“Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele”. E fora-lhe revelado, pelo Espírito Santo, que ele não morreria antes de ter visto o Cristo Senhor. E pelo Espírito foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei, ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse: “Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra; pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações, E para glória de teu povo Israel.” (Lc 2, 25-32)

A narrativa de Lucas é muito valiosa para compreender o messianismo de Jesus. Podemos compreender, nas palavras de Simeão, que o Messias chegou ao mundo. A longa espera está terminada. Agora o prometido de Deus por meio dos profetas está entre nós. É um discurso de alegria e grande emoção. Simeão sente que pode morrer em paz, pois tocou o Messias com suas mãos.

Completa-se ainda profecia com a alegria de Ana, que também se sente privilegiada,  por ter contemplado a salvação presente no Menino que tomou nos braços.

E estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era já avançada em idade, e tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua virgindade; e era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. E sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Deus, e falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém.” (Lc 2, 36 -38)

A Sagrada Família, apesar da corrupção que rolava dentro do templo, através dos próprios sumos sacerdotes, fazendo um verdadeiro mercado, apresentou-se com o pequenino Jesus. Deus ama sempre aqueles que lhe permanecem fiéis. Simeão e Ana eram duas pessoas tementes a Deus, que nunca se afastaram do templo. Naquele momento, conservavam a esperança de ver o Messias chegar e são eles que mostram a todos que o verdadeiro Messias havia nascido.

José e Maria tinham ido cumprir a lei judaica, pois todo o primogênito passava por este ritual. Eles, portanto já haviam circuncidado e dado o nome a Jesus no oitavo dia (Lc 2, 21). Em seguida,  foi apresentado ao Senhor, como a lei antiga sempre exigia (Êx 13, 2. 11. 12 e Nm 3. 11-13).  E a própria Maria, de acordo com as leis mosaicas, teve que ser purificada (Levítico 12, 2 – 6. 8). Por isso, ela foi ao templo, para apresentar Jesus e se purificar, como recordamos nos mistérios do rosário.

Simeão e Ana, fiéis representantes do Antigo Testamento, espalharam a todos que Jesus era o verdadeiro Messias. Recordamos que Simeão tomou o menino em seus braços. Ele se sentiu realizado e disse que poderia morrer em paz. A profetisa Ana começou a dar graças a Deus, mostrando-o a todo o templo.

Simeão abençoou a família sagrada, e fez três profecias surpreendentes, que, primeiramente, JJesus causaria a ascensão e queda de muitos (Lc 2, 34); em segundo lugar que os próprios judeus falariam contra Jesus (v, 34) e, em terceiro lugar, que Maria iria sofrer muito (v. 35). Estas profecias estavam corretas, o tempo fez com que todas se cumprissem. Por isso, Maria torna-se o grande ícone da espiritualidade natalina.

 

 

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CONVIDADOS PARA UMA FOLIA SAGRADA 

A liturgia na Festa da Folia de Reis, a partir das experiências populares, ensina a viver com muita alegria este tempo epifânico. Os cantos e danças das folias devem ser delicadamente introduzidas nas celebrações, na apresentação das ofertas, nos glórias e louvações, além da aclamação da Palavra. Podem enriquecer muito os nossos rituais.

A cantoria e a dança das folias podem ser introduzidas dentro das celebrações, na apresentação das ofertas, nos glórias e louvações, na aclamação da Palavra e mesmo em outros espaços celebrativos. 

Temos que entender que o tempo de Epifania é tempo de alegria, manifestada muitas cores e muitas músicas alegres e muitas danças também.

Podemos,  nesta ocasião,  sermos mais solenes. Os rituais exigem requerem outro tipo de comportamento, a alegria. Como exemplo, Ana e Simeão são o casal de idosos que se alegram como se tivessem tido um neto, que já não acreditavam ser possível. Para eles foi o momento mais esperado da vida. É a grande alegria e o júbilo da epifania.

O coração do Natal é o filho de Deus, Jesus Cristo, rei do mundo. Como o candeeiro suspende a vela, para que ilumine a casa, estes personagens elevam o menino Deus para que Ele salve o mundo.

Somos todos convidados para viver esta alegria da epifania do Menino Deus e sermos também missionários desta aventura divina. Somos todos vocacionados.

 

 

 

 

Prof. João Henrique Hansen – Pe. Antônio Sagrado Bogaz

autores de NOVOS TEMPOS, NOVOS TEMPLOS. Paulus. 2016

PBJH

 

Ilustração: Missa da Epifania do Senhor – Capela Santo Antônio